Ator, produtor e diretor
(integrante do Grupo Deu Palla)
"Eu comecei no teatro
em 1985. A primeira escola que fiz foi o Sesc, aos 21 anos, em
um curso de iniciação teatral. Daí formamos um grupo de teatro
amador chamado "Teatral Minas". Fizemos ensaios com textos de
Fernando Pessoa e Jorge Andrade. O grupo foi amadurecendo, eu
conheci o Renato Milani e começamos a montar espetáculos curtos
em bares e calouradas. Fazia escola de teatro, paralelamente,
por perceber que era necessário, tanto para a formação quanto
para a maturidade do ator. Na sequência, fomos firmando a Cia.
e conseguimos um nome que era a cara da gente: a "Deu Palla Companhia
de Arte", agora, com doze anos de carreira. Temos um pequeno núcleo
de coordenação: eu, Renato Milani e Daniela Cabral, além de uma
equipe de nove pessoas contratadas, que está com o grupo há nove
anos. Acho que estar em uma Cia. fortalece o artista mineiro.
Quando o ator está sozinho e independente, ele fica meio perdido
e não sabe bem para onde vai. Mas se ele tem a estrutura de uma
Cia. de teatro, as coisas vão se definindo mais rapidamente. Trabalhamos
com comédia e temos a característica de estar em qualquer lugar.
Seja em algum bairro, boteco, jantares, shoppings, fila do SUS,
no palco, na rua ou na praça. Essa maturidade foi conseguida através
da Cia. e acho que o que funciona em Minas Gerais é estar em grupo.
O "Deu Palla" começou fazendo espetáculos curtos e depois foi
sentindo a necessidade de espetáculos maiores para ter mais visibilidade
e para estar no palco, levando o público para dentro do teatro.
O nosso primeiro espetáculo foi "Os Dragões não Conhecem o Paraíso",
direção de Kalluh Araújo. Foi uma mudança radical da Cia., porque
até então, as pessoas nos viam fazendo esquetes com humor e interpretando
mulheres. Com "Os Dragões…", nós mudamos o cenário mineiro pela
audácia e coragem de montar um espetáculo sem patrocínio que não
pôde continuar em cartaz, porque colocávamos uma estrutura de
ferragens pesando duas toneladas e 240 litros de água dentro do
palco. Isso destrói o teatro e ninguém quer que isso aconteça.
Mas conseguimos dar essa quebra e partimos para o espetáculo "As
Mulatas de Chico Rodrigues", uma peça de rua e de palco, com criação
coletiva e dirigido por Marcelo Bones. Depois veio "As Freiras,
em Nossa Vida é uma Comédia". Era um esquete que, atendendo a
pedidos, virou um espetáculo com cenário criado por mim e o texto
do Renato Milani. Além disso, lançamos um CD com as músicas desses
dois últimos espetáculos, com direção de Maurício Tizumba e participação
de competentes músicos mineiros como Marina Machado, Helena Pena,
Regina Spósito, Nós Moscada e Tambolelê. Estamos, agora, desenvolvendo
uma pesquisa sobre Nelson Rodrigues e queremos dar um outro "boom",
por não querermos ficar só no riso. Estamos também com um esquete
novo que se chama "A Revolta das Vocalistas". Além disso, temos
uma série de persongens que estamos trabalhando na "Caravana Alterosa"
da TV Alterosa. Foi um grande susto quando fui convidado para
dirigir O "Adolescente Diário". É a minha estréia como diretor.
É um espetáculo para adolescentes e considero-me um diretor adolescente.
Estou trabalhando com atores novos que estão começando, com um
ou dois anos de iniciação teatral e com adolescentes. São pessoas
que têm muita energia, muita garra e que vão ser úteis para dar
um "click" na geração delas mesmas. Eu sempre quis dirigir, mas
tinha um medinho no ar e uma certa resistência. Está sendo uma
experiência muito legal que está me dando segurança. Acho que
vai dar certo."
TEATRO MINEIRO
– "Estamos sendo muito sortudos e felizes. Quando eu comecei,
eram poucos espetáculos em cartaz e sempre o mesmo núcleo de profissionais.
De dez anos para cá, o cenário mineiro melhorou em cem por cento.
Somos profissionais como qualquer outro e conseguimos nos manter
com qualidade, mesmo com as dificuldades por sermos autônomos.
E ainda temos méritos que outras profissões não têm, por estarmos
levando entretenimento e conscientização para as pessoas. O que
me incomoda no teatro é a inveja. Nós, artistas, somos muito egocêntricos.
Se for uma inveja positiva, tudo bem. Temos que desejar tudo que
for bom, mas sem tirar o espaço do outro. O espaço é de todos.
Falar mal para quê? Não existe mais esse negócio de competitividade.
Todos têm o direito de fazer, bem ou mal. Fazer, fazer, fazer…"
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