LELO SILVA

Bonequeiro e Coordenador do Festival Internacional de Bonecos de BH


"Já trabalhei como gerente de uma corretora de seguros, em banco e correio, sem nunca ter trabalhado com boneco antes. De repente, abandonei tudo para me dedicar ao teatro de bonecos. Foi exatamente quando minha filha fez 2 anos e hoje ela tem 14. Fundei a Cia. Catibrum, que hoje é um centro de produção cultural, fundamentado no teatro de bonecos. Somos quatro integrantes: Adriana Focas, Débora Mazoca, Paulo Fernandes e eu. O primeiro trabalho desenvolvido dentro da Catibrum foi "O Dragão que Queria Ver o Mar", em 1995, depois de ter participado como assistente de um festival internacional de teatro de bonecos. Depois disso, veio o espetáculo adulto "Andanças" e, ainda, "O Baile do Menino Deus". A concepção dos espetáculos e a confecção dos bonecos e figurinos são sempre minhas. É claro que tem uma mão de lá outra de cá, mas supervisionado por mim, além da manipulação. A emoção de construir um boneco é imensa, mas a minha paixão maior é realmente a manipulação. Com o boneco na mão eu estou feliz, realizado e quero continuar nessa onda. Em seguida, veio a idéia e a oportunidade de levar adiante um sonho do início do grupo, que era o de trazer grupos para reciclagem, aprimoramento e troca de informações. Não existe cadeira universitária em que se formem bonequeiros, titiriteiros e manipuladores. Então, a nossa única escola é participar de um festival. Foi dentro dessa necessidade que resolvi me afastar um pouco dos trabalhos do grupo em determinadas épocas do ano, para me dedicar ao Festival. O primeiro Festival Internacional de Teatro de Bonecos foi em 2000, o que, para nossa supresa, foi um sucesso de público, pois estávamos com muito medo. Conseguimos atingir uma estimativa de 34 mil pessoas. Isso foi, é claro, a força para que a gente voltasse a fazer a segunda edição. Para tanto, saimos pelos festivais do mundo, dando uma selecionada no que tinha de melhor e que fosse viável trazer, é claro. Então, está aí a segunda edição do Festival Internacional Telemig Celular de Teatro de Bonecos, com mais supresas e uma variedade bem maior de atividades durante, praticamente, dois meses e meio, pois o Festival começou no dia 4 de junho e vai até à mostra que é de 03 a 12 de agosto. Queremos crescer bastante e mostrar realmente o que é o teatro de bonecos, tirando essa idéia da cabeça do povo de que o boneco é somente para criança, tanto que, nessa edição, a maioria dos espetáculos é para adultos.

PROJETOS - A Cia. Catibrum está dando uma oficina dentro do Festival. Depois disso, o primeiro projeto será a montagem de "Arlequim", baseado no texto do Carlo Goldoni, com boneco de luva, levemente inspirado nas tradições titiriteiras do nordeste brasileiro. Fomos convidados também a entrar em um projeto que deve começar no final do ano. É "A Volta ao Mundo em Oitenta Dias". Além desses dois projetos, temos oficinas gratuitas para adolescentes em cidades, favelas e vilas, durante todo esse período. Trabalhamos criação, confecção e montagem de um espetáculo. É o lado forte da Catibrum, pois com muito carinho, a gente tem formado grupinhos isolados de adolescentes pelo interior, que vêm desenvolvendo o teatro de bonecos. Isso é super bacana.

MERCADO - Hoje, podemos considerar que o teatro de bonecos tem um certo respeito não só aqui em Belo Horizonte, mas no mundo todo, principalmente na Europa. O Brasil está, aos poucos, chegando lá. Belo Horizonte está sendo uma força muito grande para isso e já existem outros festivais por aí que acontecem há 10 ou 13 anos. O Teatro de Bonecos no Brasil realmente tomou uma outra forma e as pessoas começaram a encará-lo de outra maneira, até mesmo pela cobertura que a mídia nacional deu para o Festival. Quando estreamos nosso primeiro espetáculo, ficamos dois meses com 6 pessoas na platéia. Um espetáculo que durou 6 anos, foi até para Portugal e nem divulgado isso foi. Mas o campo está começando a melhorar e ter o respeito que deve ter, devido a vários fatores, inclusive o Festival, o que me deixa bem orgulhoso.

RECADO - Quero elogiar o público de Belo Horizonte que é extremamente receptivo e falar para todo mundo, inclusive produtores, atores, manipuladores e artistas em geral, que essa proposta da Cia. Catibrum, do Festival Internacional de Teatro de Bonecos, não é para nós mesmos não, e sim, para todos. É para ser desfrutado e degustado a cada minuto, porque fazemos com muito carinho e dedicação."

Coxia
Entrevista