Ator
e diretor
"Meu primeiro contato com teatro foi através
do Ronaldo Boschi, em 1976. Ele tinha uma escola de teatro, na
rua Carangola, que se chamava "Centro de Pesquisas Teatrais".
Lá, tive a oportunidade de aprender algumas coisas e de ter contato
com outros diretores. Conheci o Pedro Paulo Cava, o próprio Ronaldo
Boschi, Joaquim Costa, Felício Alves, entre outros.
Fiquei lá por dois anos, porque a escola tinha um projeto legal.
Nós fazíamos um curso de iniciação ao teatro e depois o Ronaldo
produzia montagens que eram apresentadas no Teatro Icbeu gratuitamente.
De lá para cá, tive várias experiências com diversos diretores
de Belo Horizonte, mas gosto de citar aquelas que mais marcaram
minha trajetória. Em 1978, comecei a trabalhar com o Pedro Paulo
Cava no "Rei Momo". Depois, saí da escola do Ronaldo e fiz um
trabalho muito importante, também com o Pedro, que foi "O Bravo
Soldado Shueik", com o qual tive uma das primeiras experiências
profissionais, ao lado de Ezequias Marques, Elvécio Guimarães
e Luciano Luppi. Em 1983, fiz com o Walmir José "Calabar", do
Chico Buarque. Nesse ano, fui para Governador Valadares e voltei
em 1985, quando fiz "Lua de Cetim" e, mais tarde, "Bella Ciao",
ambos com Pedro Paulo. Aí, o Sérgio Abritta, que era meu companheiro
de escola de teatro desde 1976, começou a escrever e, a partir
de 1990, comecei a trabalhar em muitos textos dele. O primeiro
foi "O Marido da Minha Mulher" e depois "Eu Te Amo Ditadura",
dirigido pelo Wilson Oliveira. De 1998 para cá, resolvi produzir
os meus espetáculos e a parceria com Sérgio Abritta se concretizou.
A gente tem um grupo, em que ele escreve os textos e dirige, enquanto
eu produzo e atuo. Atualmente, estamos na terceira produção. Fizemos
"Aniversário de Casamento"; um monólogo chamado "Perdido Por Um,
Perdido Por Mil" e, mais recentemente, "Três Mulheres Para Fernandinho",
ainda em cartaz e um marco na nossa trajetória. Sempre quisemos
fazer um vaudeville e um espetáculo com muitos atores. Com esta
comédia, realizamos um sonho. Para o ano que vem, estamos com
o projeto de uma comédia do Sérgio chamada "Dez Maneiras Incríveis
de Destruir seu Casamento".
TEATRO MINEIRO - O teatro mineiro sempre
teve dificuldades. Na época em que comecei, existiam poucas casas
de espetáculos. Hoje existem muitas, mas também muitos grupos.
Acho que o público ia mais ao teatro. Apesar da "Campanha de Popularização",
que é um sucesso, ao longo do ano as pessoas freqüentavam mais
o teatro. Os artistas faziam temporada de terça a domingo. Depois,
foram reduzindo para quarta a domingo, quinta a domingo e hoje
já se faz de sexta a domingo. Acho também que o texto de teatro
era mais valorizado. Hoje, o dramaturgo é quase que uma raça em
extinção. De um modo geral, as pessoas estão escrevendo pouco
para teatro e penso que temos que recuperar isso. Mas sou otimista,
apesar de tudo, e acho que o teatro mineiro está encontrando um
caminho. Ele se fortaleceu. A gente tem diretores talentosos,
correntes novas surgindo e não tão centralizadas como antes, em
que tudo era concentrado numa turma só. Às vezes, caímos na discussão
do que é melhor, se comédia, drama, tragédia ou teatro papo-cabeça.
Acho que existe o bom e o mau teatro, seja em que gênero for.
Tem é que ser bem feito. Sou otimista em dizer que a gente evoluiu.
Agora, temos que repensar a questão do público, já que não é um
problema da qualidade do nosso teatro e sim um problema cultural
e social. Quando comecei, estávamos no fim da ditadura. Era uma
época em que só montavam textos políticos que falavam da questão
social e tinham um respaldo da população. Hoje, o inimigo está
diversificado. O teatro luta contra outras coisas e sinto que
deve retomar o que é importante para o ator dizer hoje, para que
o teatro seja um veículo de transformação, como sempre foi.
LEIS DE INCENTIVO - Produzir é um desafio
hoje em dia. As leis de incentivo, com todos os reparos que elas
merecem, ainda são um canal para se produzir. Sem elas, eu não
teria coragem, e penso que muita gente, de arriscar em uma produção.
No entanto, há dificuldades. Às vezes, você tem um projeto aprovado
e não consegue captar. Mal ou bem, temos que rever a questão do
Estado transferir totalmente para a iniciativa privada a responsabilidade
da produção cultural. A classe artística tem que se mobilizar
para encontrar uma saída mais racional, porque senão os recursos
ficarão sempre centralizados em determinados produtores. Isso
é muito ruim e não abre o leque. Atualmente, as leis são um mal
necessário, porque empresa nenhuma patrocina mais nada sem o amparo
da lei.
FORMAÇÃO DO ATOR - Eu não tive uma formação
de escola, mas não a invalido. Acho muito legal. Hoje em dia,
Belo Horizonte tem o curso de Artes Cênicas da UFMG, que foi um
avanço. Acho que a convivência numa escola de teatro é muito saudável.
Ali, a pessoa tem a oportunidade de experimentar e definir o que
quer ser: ator, diretor, dramaturgo, contra-regra, técnico… Então,
a escola é saudável, porque o aluno aprende a conviver coletivamente.
O teatro é uma arte coletiva e é importante em todos os níveis.
Lamento não ter tido uma formação de três a quatro anos de escola.
Mas, também não invalido a que tive, pois acabei correndo atrás
de muita coisa. Me agarrava a cursos e oficinas de voz, corpo,
aulas de dança e tive a oportunidade de trabalhar com diretores
que foram verdadeiros professores para mim. São caminhos diferentes.
MISSÃO DO ATOR - A função do artista é
repassar idéias, sentimentos e emoções. É refletir aquilo que
a sociedade vive e o ser humano passa, seja rindo, chorando ou
emocionando. Quando assisto a um espetáculo de teatro, a primeira
coisa que me pergunto é se ele me emocionou. Se isso acontece,
acho que foi bom, que valeu a pena e que quem está fazendo atingiu
o seu objetivo. O ator repensa o momento histórico do ser humano,
contribuindo para sua evolução, não só para quem está assistindo
mas, principalmente, para quem está fazendo.
RECADO - Acho que a transformação do mundo
e do homem está na arte, sem querer ser radical e falar que a
arte é a salvação da humanidade. Não é isso. Mas, a partir do
momento em que as pessoas desenvolvem, assistem ou fazem arte
(seja pintura, música, teatro), elas estão contribuindo para que
a gente tenha um mundo melhor. As pessoas estão vivendo de uma
forma muito egoísta e a arte tem a função e o dom de tocar o coração
delas, seja em qualquer forma de expressão artística. Então, eu
tinha vontade de dar um recado para as pessoas e falar assim:
- Oh, esse caminho é legal. Isso aqui é uma luz que pode lhe fazer
uma pessoa melhor, mais inteira e mais feliz.
PALCO BH - Acho que o Palco BH vem cumprindo
uma função legal de divulgar a arte em Belo Horizonte. Registra
a história do teatro e o que acontece aqui nos palcos. As entrevistas
que são feitas, a gente sempre lê. Vocês estão de parabéns. Um
projeto assim tem que continuar, mesmo com todas as dificuldades."
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