LUCIANO LUPPI

Ator, Diretor e Professor


"Tinha 14 anos de idade quando comecei a fazer teatro. Vim do interior e nunca tinha visto uma peça antes. De repente, fiquei entusiasmado quando li uma matéria no jornal falando da necessidade de atores e atrizes para um espetáculo e quis saber o que era isso. Naquela época, tínhamos poucos grupos atuantes e realmente com uma proposta de linguagem e uma concepção clara e definida de trabalho de grupo. E foi com o grupo do Paulo César Bicalho, na peça infantil "A Terra é Azul" em 1969, que fui chamado para um outro espetáculo, o "Calígula" em 1971. Daí o Ronaldo Brandão convidou-me para fazer "Baal" e nunca mais parei. Entrosei-me em todas as áreas do teatro, pois naquela época a gente fazia de tudo. Além de varrer o palco, eu escrevia, interpretava, fazia luz, e ainda ensaiávamos um espetáculo infantil à tarde, um adulto à noite e ficávamos em temporada com uma peça adulta e uma infantil. Tudo isso foi muito importante, porque dá uma sustentação não só profissional como de vida. Em um determinado momento comecei a trabalhar a criatividade, a expressão de idéias e sentimentos, o falar em público, a relação grupal e as questões emocionais, utilizando o teatro nas empresas. Isto gerou um montante de trabalho muito grande, causando-me um conflito: ter que ficar em uma temporada de quinta a domingo, viagens para fazer e empresas para trabalhar no final de semana. Por isso, aproximadamente durante 8 anos, acabei deixando esse teatro de temporada um pouco de lado e me dediquei ao trabalho de empresa. Mas como tenho um vício que é essa cachaça de estar no palco, resolvi fazer um trabalho de poesia. Só que eu o introduzi também dentro das empresas e funcionou mais do que o treinamento que estava desenvolvendo. Aí, junto com a Ivana Andrés e o Evaldo Leoni, criamos o grupo "Voz e Poesia" e nos dedicamos a fazer um trabalho, no qual a poesia e a música se integram, criando uma mensagem bem direta, em cima do que as pessoas estão precisando ouvir nas empresas. Questões de relacionamentos, sobre mudanças e qualidade de vida. Criamos um espetáculo muito simples, mas muito emocionante chamado "Cartas Marcadas", o qual posso considerar ser a grande obra que criei na minha carreira. Atualmente, resolvi voltar ao palco com "Os Bastidores de Romeu e Julieta". No fundo, foi para ver se eu não estava ficando enferrujado e, como voltei a dar aula de teatro na Oficina de Teatro da PUC, achei importante aliar uma coisa a outra e estar trabalhando com pessoas novas. Mas o trabalho de poesia e música continua cada vez mais quente e o CD não demora a sair.

TEATRO MINEIRO - Há 32 anos que eu ouço falar da famosa crise no teatro. Acho que, na verdade, ele nunca esteve em crise. Há, sim, uma forma de se fazer que pode estar em crise. É que ainda tentamos fazer teatro de uma forma herdada da Revolução Industrial, tendo que colocar uma peça de quinta a domingo às 21 horas, estar no teatro, fazer uma temporada e divulgar no jornal, quer dizer, é todo um padrão pré-estabelecido e industrial, mas com um produto artesanal. Um filme pode ter seções às 2, 4, 6 e 8 horas no Afeganistão ou na Conchinchina. Mas no teatro não. Se eu não estiver hoje lá no meu espetáculo, o que vai acontecer? É um produto artesanal que ainda tenta utilizar um processo industrial e arcaico para poder se colocar dentro do mercado, competindo com produtos com altíssimo poder de penetração no mercado e que têm um marketing fantástico. Então, quem vai perder nisso tudo é o teatro, obviamente. Antes da Revolução Industrial não era assim e nunca foi. No Teatro Grego, o próprio Estado bancava e era toda uma festividade. Na Idade Média tinha o teatro profano e o religioso. Algumas vezes, os teatros tinham os mecenas, em outras eram de rua ou mambembe. Nunca era normal ficar em temporada comercialmente. O que aconteceu foi que esse modelo Pós-Revolução dentro das empresas e no nosso mundo globalizado já caiu, está defasado, obsoleto e a gente ainda está tentando fazer dessa forma. Acho que o teatro tem que resgatar suas origens e a sua maneira de exercitar. É por isso que, na verdade, ele não está em crise. Está se abrindo para todos os espaços, indo para as empresas, escolas, dentro de ônibus e para tudo quanto é lugar. O caminho do teatro é exatamente o de abrir espaço, ir atrás dos acontecimentos, chegar onde o público está e não só se encastelar dentro de um teatro. É claro que é muito bom, muito gostoso, mas a gente deve ter mais flexibilidade para não deixar que esse processo fique estagnado. Sinto que essa geração de hoje recebeu uma carga de informação muito grande via internet e televisão e tem uma visão muito pronta do mundo. Não se tem uma possibilidade de recriar, ou seja, a máquina é que vai dar condições. Estou sentindo os jovens meio perdidos e com medo de ousar, de experimentar e arriscar. Sempre estão esperando o que vai ou se vai dar certo, enquanto que, na adolescência da minha época, a gente queria era ficar livre do pai e da mãe, botar uma mochila nas costas, pegar o trem da morte e ir para o Peru fazer qualquer loucura. Cabe a nós enfiar a cara mesmo, tentar novas maneiras, experimentar outras coisas e não ficar preso a esse esquema velho.

RECADO - Eu queria citar uma frase do Wolber Alvarenga que diz assim: "Se você quiser começar alguma coisa, comece pelo princípio e o princípio será qualquer lugar por onde começar". Então, se quer fazer alguma coisa, comece. Dê o primeiro passo. Não importa onde vai dar. O importante é tentar."

Coxia
Entrevista