ROGÉRIO FALABELLA

Ator, Diretor e Teatrólogo

"Eu comecei minha carreira em 1954, praticamente menino, fazendo teatro nesses núcleos de igreja. Depois, comecei a trabalhar com o Carlos Xavier no Teatro de Comédia de BH, onde aprendi muito e fiz algumas peças, como a "Deu o Freud Contra", "Terra Queimada", "A Farsa do Advogado Pathelin" e os "Sonhos do Theodoro".

 

Em 1957, fui para a televisão, onde trabalhei por 10 anos, integrando o elenco de Teleteatro da extinta TV Itacolomi. A televisão nos dá muitas fórmulas, pois pude produzir, dirigir e escrever. Além disso, ela estava começando e nós éramos pioneiros. Juntamente com trabalho de ator, surgiu a oportunidade de escrever roteiros para o Teleteatro, um programa de 45 minutos com temas policiais, de suspense, terror ou comédia, escritos, normalmente, em dupla. Isso me deu a possibilidade de, como ator, trabalhar com textos de grandes dramaturgos e uma certa bagagem para escrever. Mais tarde voltei ao teatro, mas também trabalhando com publicidade. Quando comecei nessa área, a televisão ainda era ao vivo. Ou se fazia o comercial em videoteipe da própria emissora ou em filme. Então, na verdade, comecei pelo cinema, pois fazíamos os filmes comerciais em 35 ou 16 mm para televisão, mas com todo o processo de cinema. Depois veio o teipe, com uma qualidade muito melhor, fazendo com que 90% das produções sejam feitas assim hoje e alguma coisa em cinema, quando há um bom orçamento. Mas a publicidade está atravessando uma crise. Já fiz comerciais de produção bem mais elaborada e com muitos atores. Hoje, quando a gente coloca mais de 5 atores em cena, já é uma superprodução. Caiu muito em quantidade, pois o número de produtores aumentou e o trabalho diminuiu. Como diretor, penso que o mercado para o ator nessa área, em BH, tem melhorado muito. Tem surgido um número muito maior de atores e atrizes, fazendo com que tenhamos um grande "casting". Há uns 15 anos, quase sempre se buscava atores em São Paulo, não porque aqui não tivesse, mas não achavam pessoas específicas para o tipo de personagem que o roteiro exigia e, quando achavam, já tinham feito muita coisa. Existem muitos atores na faixa de 20 a 30 anos, mas é difícil encontrar os de 45 para cima. Ou a pessoa está fazendo teatro fora ou mudou de profissão. Então, fica mais complicado contactar. Ultimamente, entre um trabalho e outro, tenho tido tempo para escrever. Comecei a escrever para teatro há uns cinco anos. A minha primeira peça foi "Perigo, Mineiros em Férias", em cartaz até hoje. Daí já tenho umas cinco já escritas, uma montada ("Depois Daquele Baile") e outras que estão em produção.

TEATRO – Temos um público hoje bem diversificado. O do teatro digestivo e de comédia e o dos que buscam um teatro mais elaborado. Não que a comédia não seja, mas porque buscam alguma novidade a mais no teatro experimental, que acho ter um público pequeno e restrito. Nosso maior público no momento é o que busca diversão. Mas teatro não é só isso e deve dizer alguma coisa a mais, mesmo que seja uma comédia leve. A diversão pode ser conseguida na televisão que está cheia de programas assim. Mas o teatro tem um pouco mais de responsabilidade. No final de 60, o público era menor mas exigente quanto ao teatro como engajamento político. A visão era diferente da de hoje, que tem um público maior e que quer se divertir. Agora, acho que nós estamos misturando demais a qualidade das produções. Existem muitas bem feitas, com bons atores, bom texto e uma bela direção. Mas existem as que são feitas de forma primária e amadora (no mau sentido, porque tem o bom amador). Há uns 15 anos, existia a distinção do que seria o teatro oficial e profissional, do que era o amador. Hoje não existe mais diferença. Qualquer menino ou menina de 12 ou 15 anos já está fazendo teatro profissional. Só faz profissional, quer saber quanto vai ganhar, como que é e como não é. Então, fica muito difícil conseguir qualidade nisso. E não são só os jovens não. Alguns que já estão aí há muito tempo também e não falo da parte artística, porque isso é relativo e não sou crítico, mas da qualidade de produção. Mas o público detecta rapidamente, pois se ele chegar ao teatro e não tiver bem produzido, sai falando mal. A seleção é natural.

FAMÍLIA DE ARTISTAS - Isso daí veio quase que naturalmente. Minhas filhas começaram trabalhando comigo em comerciais e, às vezes, me assistiam no palco. A Maria Olímpia, mãe delas, canta no Coral do Palácio das Artes e elas assistiam a muitas óperas. A Cynthia Falabella fez o curso de balé no Palácio e a Débora Falabella também sempre gostou de teatro. Daí começaram fazendo peças no colégio, depois infantis e outras oportunidades foram surgindo. Elas se interessaram pela profissão e estão seguindo. A Débora está na Globo e já fez o seu segundo longa metragem e a Cynthia deve fazer uma peça no Rio. Acho tudo muito bom, pois o que eu não consegui na minha época, porque era muito mais difícil e eu fiquei em Belo Horizonte, elas estão conseguindo. Têm muito talento e devem prosseguir, mas acho também que é uma profissão muito complicada. A mídia mistura a profissão de ator com outro tipo de profissão que eu não sei muito bem o que é, dando destaque a quem saiu com fulano ou quem está na ilha tal. É mais um noticiário da vida pessoal do que de pessoas que estão fazendo daquele trabalho algo realmente profissional. Por exemplo, a Débora ganhou, há pouco tempo, o prêmio de melhor atriz do Festival de Brasília, com o filme "Dois Perdidos Numa Noite Suja". Não saiu nenhuma nota ou reportagem nas revistas. No entanto, uma quantidade de notícias sem nenhum interesse da área e sem razão de ser viram destaque de capa. Então a imprensa, nessa hora, não prestigia exatamente o trabalho do ator como ator.

RECADO – Devemos, cada vez mais, nos profissionalizar e trabalhar muito, para conseguirmos espetáculos cada vez melhores, porque o público está, a cada dia, exigindo mais. Estamos chegando a um ponto, em que não podemos mais errar. Acredito que trabalhando com afinco e amor, a gente consegue dar ao público o que ele quer.

Coxia
Entrevista