Diretor teatral, Diretor do Teatro da Cidade e da Oficina de
Teatro PUC MINAS
"Comecei a fazer teatro em 1963, dentro
dos movimentos da esquerda católica, com um grupo chamado Teatro
Jovem, na Igreja São José. Fiz "O Pequeno Príncipe", "O Rapto
das Cebolinhas", "A Volta do Camaleão Alface", e "Pluft, o Fantasminha".
Aprendi iluminação, cenotécnica, fazia
contra-regragem, era ator, montava e desmontava o palco, vendia
ingresso na porta da Igreja, enfim, essa coisa louca. Dois anos
depois, entrei para o Teatro Experimental, grupo mais importante
de Minas na época, dirigido pelo Jonas Bloch e Jota Dangelo. Fiz
com eles "Bolota Contra o Bruxo" e, no papel do Bolota, ganhei
o prêmio de ator revelação. Na seqüência, fiz "Oh, Oh, Oh, Minas
Gerais", primeiro na parte de produção e depois no elenco. Nesse
período, também transitei pelo Grupo Geração e fundamos o TIP
- Teatro Infanto-Juvenil Popular, quando fizemos, em 68, com o
Helvécio Ferreira dirigindo, "As Beterrabas do Senhor Duque" e
"Liderato, o Rato Que Era Líder", que ficou três anos em cartaz
e com o qual ganhei o prêmio de melhor ator do ano. Depois não
ganhei mais prêmio algum e me desaconselharam ser ator, porque
eu era péssimo. Em 69 peguei exército e fiquei fazendo teatro
só nos bastidores. Fiz vestibular para Sociologia e fundei, em
70, na FAFICH, o grupo Teatro de Pesquisa que tenho até hoje.
Minha primeira direção foi nesse período, com "Aquele Que Diz
Sim, Aquele Que Diz Não". Depois comecei a dirigir infantis. Larguei
o curso de Sociologia e fiz um filme de Geraldo Santos Pereira,
chamado "Balada dos Infiéis". Data dessa época a minha amizade
com grandes atores e diretores brasileiros: Mário Lago, Paulo
Autran, Fernanda Montenegro, Juca de Oliveira e Otávio Augusto.
Íamos fazendo um círculo de gente de teatro que, naquela época,
conversava mais. Os anos 70 foram muito férteis. Fiz "O Rei Momo",
"Morte Vida Severina", vários infantis, "O Bravo Soldado Shueik",
"Mãos Sujas de Terra", "Dom Quixote", além de ter participado
de todos os importantes movimentos e encontros teatrais nacionais
desse período. Acho que atuação teatral não pode estar ligada
só ao espetáculo e sim como um todo. Nos anos 80, veio a Oficina
de Teatro propriamente dita, onde fiz grandes espetáculos. Ela
colocou mais de dois mil atores no mercado e modificou a forma
do mercado fazer teatro. Era uma escola plural, com trinta professores
das mais diversas tendências, como é hoje a Oficina de Teatro
da Puc, onde sou Diretor-Coordenador.
Em 85 iniciou-se o projeto do Teatro da Cidade, que foi inaugurado
em 91. O Teatro da Cidade é uma dessas felizes coincidências em
que você consegue reunir tanta gente em torno de um projeto, até
a sua efetivação e continuidade. Foi criado para ser um centro
de produção teatral e, se tiver duas ou três produções por ano,
abre uma frente de trabalho para, no mínimo, 150 pessoas. Sem
as parcerias, que ao longo da vida fui tendo, seria impossível
continuar. Destaco a presença de algumas pessoas na minha formação
e o Dangelo é uma delas. Sem dúvida ele é o pai teatral de todos,
além dos mestres que, de alguma forma, me influenciaram: Helvécio
Ferreira, Paula Lima, João Etiene, Haydee Bittencourt e o Raul
Belém Machado, uma parceria de quase 30 anos, me influenciando
em muitas coisas e vice-versa, além de ser, para mim, o grande
cenógrafo brasileiro. Destaco ainda Décio Noviello, Dulce Beltrão
e Cláudia Assunção. "Estrela Dalva" é o sucesso do Teatro no momento.
É um painel sobre a vida comovente de Dalva de Oliveira, uma mulher
meio heróica no tempo dela, conturbada e separada do marido para
cantar, o que faz o espetáculo muito bonito. Para o ano que vem
o projeto é "Tropicália", um musical jovem e psicodélico dos anos
70, abordando o que aconteceu de porra-louquice na época. Com
relação àquele problema que houve com o Teatro da Cidade, tudo
está em andamento e esperando liberações judiciais para poder,
efetivamente, ser da cidade.
TEATRO MINEIRO
– Na década de 60, fundei o Sindicato dos Artistas e fui o seu
primeiro Presidente. Previa que, no final dos anos 90, Belo Horizonte
teria um profissionalismo grande. Fui das pessoas da minha geração
que não saiu para buscar espaço em São Paulo, Rio ou exterior,
porque sempre achei que era possível viver dignamente da minha
atividade nessa cidade. Eram 3 casas de espetáculo, todas do Estado,
e de 4 a 6 companhias ou grupos que se degladiavam e, às vezes,
se juntavam quando a luta era comum. Hoje temos 32 espaços na
cidade (a maioria deles não é público), mais de 100 produções
por ano de todos os níveis: boas, ruins, excelentes, péssimas
e picaretas. Fomos crescendo junto com a cidade e formando um
público desde os anos 60. É o sinal de que, de uma certa maneira,
o próprio mercado se encarrega de depurar a picaretagem. Hoje
recebo no meu teatro pessoas que são filhas ou netas das que já
assistiram aos meus espetáculos em outras épocas. Acho que é esse
o segredo da nossa profissão. Com essa credibilidade, conquistamos
o respaldo da mídia e de todos. A busca do patrocínio é fundamental
e fui fidelizando parceiros em todas as áreas possíveis, o que
me permitiu a sobrevivência até hoje. É claro que isso tudo é
um stress, pois se aposta em uma produção que dá, em outra que
não dá e é uma falta de dinheiro eterna. Acho que o teatro mineiro,
hoje, tem três vertentes: o teatro comprometido com a comédia
ligeira, que costumo dizer ser o "comercial de giro"; a vertente
xiita, que são os espetáculos "ameba com angústia", em que o pessoal
fica se contorcendo no palco, achando que vai salvar o teatro
com uma nova linguagem, o que nos anos 60 e 70 era tudo igual,
com essa coisa hermética e um experimentalismo exagerado; a terceira
vertente é uma aposta em espetáculos com mais densidade e conteúdo,
digamos assim, mais convencional, atingindo um público que, habitualmente,
não sairia de casa para ver nenhuma das outras vertentes. Acredito
que duas dessas vertentes se chocam muito - a comercial com a
experimental e, no meio, estão os que vão fazendo um teatro que
agrada ao grande público. Não que os outros não agradem e não
coloco como forma de contrapor a isso, mas acho que são vertentes.
No meu caso, até pela necessidade de manter a Casa funcionando
escolhi a de musicais e comédias de muito bom nível. O teatro
mineiro hoje tem ator demais capacitado no SATED. Tem ator que
chega aqui e me joga na cara uma carteira, dizendo que é profissonal.
Mas eu nunca vi esse sujeito trabalhando em toda a minha vida.
Não consigo entender essa capacitação excessiva do SATED para
atores. Ator profissional é aquele que trabalha, mostra sua cara
e está no mercado.
RECADO – Em quase
40 anos de profissão e 52 anos de vida, posso dizer que quem quer
fazer teatro tem que ler muito, pois é uma arte muito abrangente
que, o tempo inteiro, está fazendo interface com a literatura,
psicanálise, psicologia social, história, sociologia, artes plásticas,
dança e música. Então, o homem de teatro tem que ser um sabedor
mínimo de como é que se transita nesses vários meandros e, principalmente,
de que é uma arte política que se faz com o coletivo para o coletivo."
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