TÚLIO MÁRCIO CARVALHO DE REZENDE

Chefe de Palco do Palácio das Artes

"Comecei a trabalhar em teatro com 15 anos de idade, aqui no Palácio das Artes, em 1977. Era um teatro novo, pois foi inaugurado em 1970, e havia grandes pessoas que, para mim, foram fantásticas: o Heron Loreto, que está em Brasília e o Jorge Luiz, um companheiro que está aí até hoje. Tem uma outra gama dos que vieram também desbravando o teatro mineiro, como o Pedro Paulo Cava, Jota Dangelo, José Maria Amorim e outros que estão aí lutando heroicamente. Nós começamos a crescer junto com o Palácio das Artes.



Não tinha equipamento de luz, de som e a infra-estrutura que tem hoje. A gente fazia milagres. O presidente da época, Celso Renato Gilbert, trouxe os equipamentos de luz importados da Bélgica, que estavam parados no porto do Rio de Janeiro. Quando ele chegou, nós desempacotamos e começamos a montar. Graças à equipe técnica do Palácio das Artes, foi construída toda esta parte da iluminação. O eletricista, que é um autêntico professor de todos nós, chama-se Sebastião Acácio dos Reis, o Tião. Ele tomou a linha de frente junto com o nosso engenheiro Max e começamos a montar a parte elétrica. Essa montagem já prevalece há quase trinta anos e nunca deu problema. Todas as peças e shows do Brasil e do mundo inteiro que por aqui passam, usufruem desse berço, dessa manutenção e do trato que demos nesse equipamento. Dali em diante, o Palácio começou a criar corpo, tanto na parte de som como de luz. Foram surgindo as mesas de luz e equipamento de som computadorizados. A maioria dos técnicos que outrora trabalharam com a gente foram para outros teatros, outras Companhias e outros eventos, mas alguns poucos ainda permanecem aqui, por amor à Casa. Eu, por exemplo, estou fazendo 26 anos de Palácio das Artes e já passei pelo Teatro Sesiminas, onde fiquei por cinco anos, como chefe de palco. Também tive a oportunidade de obter uma licença de três anos, quando fui trabalhar com a Débora Colcker. Foi quando pude viajar um pouco para fora do Brasil e conhecer lugares que me deram um embasamento um pouco maior, para também poder ajudar os companheiros que aqui comigo trabalham. Às vezes, ser chefe de palco não é brincadeira. Eu, com sinceridade, prefiro estar no grosso - afinando luz, mexendo com o som. Sem falsa modéstia, sei da parte mecânica - varanda, maquinária, cortina, enfim, preciso ter um embasamento de cada coisa. Meu conhecimento da parte de som veio com um amigão, o Ivan Corrêa. A gente fazia o projeto "Fim de Tarde", na Humberto Mauro. Começamos juntos lá. Além disso, quando eu chegava às 7 horas da manhã para abrir o teatro, pegava o ensaio da orquestra, o que me deu também uma veia erudita que me dá autonomia de conhecer timbres de instrumentos da orquestra e levar isso para as bandas, na operação de uma mesa de som. Não sou nenhum "expert", mas tenho um pouco de discernimento de quando o som está bem equalizado ou não. Na área de iluminação, comecei com um balé fantástico, que se chamava "Trocadeiro de Monte Carlo". Foi o ponta-pé inicial para trabalhar com iluminação. Então, a função de chefe engloba tudo isso e me dá autonomia de, às vezes, ser chato com os companheiros quando eles dão alguma mancada. Mas dos técnicos daqui, até que não tenho muito que puxar a orelha, porque são muito amigos. Passamos mais tempo aqui do que com nossas famílias e cada um já sabe o que tem que fazer. É um teatro profissional. Não precisa ficar cobrando. A única coisa que sinto, é que poderia ter para cada um, como para toda nossa sociedade, um salário um pouquinho melhor. Só não pego mais no pesado quando a parte burocrática me chama atenção, que é o contato com os produtores, acerto do raider de som, de luz e planta baixa de palco. Quando falo dessas coisas fico lembrando de quantos músicos mineiros surgiram desde aquela época que entrei aqui? Quantos atores? Quantas brigas a gente já não teve com diretores e hoje somos amigos? Quantos teatros? Quantos shows? Realmente, posso dizer que nós tivemos a felicidade de acompanhar a efervescência da cultura em Belo Horizonte. É um berço de história que ninguém mais tira da gente. Com exceção do incêndio no teatro, que realmente foi uma tragédia, agradeço muito a Deus de nunca ter acontecido nenhum acidente dentro desse teatro que tenha machucado alguém, morrido ou deixado alguém aleijado, a ponto de não trabalhar mais.

REALIDADE DO TÉCNICO - A realidade hoje do técnico no mercado de trabalho é muito sofrida e competitiva. Técnico é aquele que trabalha sábado e domingo e que, no seu aniversário, no do seu pai ou no natal, está trabalhando. Hoje, o técnico esbarra nessa dificuldade. Ele até fica, mas muito a contra-gosto. Na parte de salário, aqui em Minas, é muito difícil para o técnico ter uma remuneração justa. Além disso, nós temos uma defasagem de casas de espetáculos em Belo Horizonte que tenham uma postura técnica profissional, em relação a equipamentos, varandas, parte de luz, maquinária e som. Não é para fazer concorrência com o Palácio, mas para fomentar a capital mineira, para uma efervescência cultural. Na parte de formação, não temos nenhum curso específico de técnico de luz, técnico de som ou maquinista. Na Europa, o técnico estuda e faz a faculdade para ser técnico e recebe todo um incentivo para aquilo. Há um investimento no profissional.

RECADO - Vou agradecer à Solanda Steckelberg e ao Mauro Werkema, que reconheceram, não só em mim mas em toda a equipe de palco, que somos companheiros de trabalho, trabalhadores da cultura e, praticamente, irmãos. Agradeço por terem me dado a oportunidade de estar à frente dessa equipe técnica de palco, que é de uma senhora responsabilidade.

PALCO BH - Tenho que pedir desculpas ao Palco BH, porque enrolei pra caramba para dar esta entrevista, por vergonha, por timidez e por estar me expondo. Técnico não se expõe. Todo técnico em si é tímido, quando se expõe. Acho o Palco BH fantástico. Só peço que desculpem a minha demora e minha timidez."

Coxia
Entrevista