PALCO REFLEXÃO


CARTA ABERTA AOS PROFISSIONAIS DE ARTES CÊNICAS DE MINAS GERAIS

No trigésimo ano da Campanha de Popularização do Teatro e da Dança, a imprensa escrita mineira parece ignorar o verdadeiro caráter da Campanha, que é a popularização e democratização do acesso ao teatro.

A exemplo da mídia televisiva que insiste na mercantilização da cultura, transformando-a em mercadoria, onde o que importa são os números de CDs e/ou livros vendidos em detrimento da  qualidade da produção cultural. Nos maiores jornais de Minas Gerais esta lógica se reproduz, quando se faz a escolha pela abordagem quantitativa, em que os espetáculos “Campeões de Bilheteria” são eternamente enaltecidos por seus recordes alcançados, induzindo o espectador menos informado a apostar suas “fichas” em espetáculos líderes de bilheteria. O que deveria ser uma importante função dos Cadernos de Cultura, proporcionar uma verdadeira difusão de toda a produção cultural existente no estado, acaba se transformando numa “Bolsa de Valores”, onde o resultado numérico é o que merece destaque.

Nunca é demais lembrar que são recursos públicos das Leis de Incentivo Estadual e Municipal de Belo Horizonte que têm garantido a realização desta Campanha, nos últimos anos, através de renúncia fiscal, dando assim plenos direitos de acesso a preços populares para todas as camadas da sociedade, principalmente as menos favorecidas e carentes de cultura. Como também proporcionando a diversas Companhias e Grupos a possibilidade de mostrarem seu trabalho. Isto se a mídia escrita garantisse, de forma igualitária, o mesmo espaço para todos, inclusive para os que não dispõem de patrocínios ou apoio para divulgação.

Este texto não pretende questionar estilos ou gêneros, muito menos desqualificar qualquer tipo de espetáculo. Pretende, sim, questionar o enfoque dado através de matérias que se baseiam apenas no número de ingressos vendidos, não contribuindo em nada na melhoria das produções teatrais e incentivando apenas a visão capitalista da produção artística.

Subliminarmente estas matérias acabam elegendo o que o espectador deve assistir, baseado apenas nesta matemática perversa.

Um exemplo gritante é a matéria publicada no Jornal Estado de Minas do dia 27 de janeiro, onde comemora os números expressivos (“na casa dos cinco dígitos”) dos “campeões” de venda, contra os “lanterninhas da lista”.

Finalizando, cabe ao Sinparc/MG – Sindicato dos Produtores de Artes Cênicas de Minas Gerais, realizador da Campanha:

  • Posicionar-se contra este tipo de tratamento diferenciado na divulgação dos espetáculos da  Campanha;
  • Impedir qualquer tentativa de disputa entre os espetáculos;
  • Divulgar apenas o balanço total da campanha, evitando a comparação inadequada.
  • Quanto a nós artistas, técnicos, profissionais da área e público em geral, deveríamos exigir um olhar menos mercantilista e mais artístico dos meios de comunicação que se propõem a noticiar a nossa cultura.

Marcelo Borges
Ator

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