EID RIBEIRO

Diretor e Dramaturgo

Comecei no teatro em 1963, como estudante, no CPC (Centro Popular de Cultura), que era ligado à UNE e tinha todo um projeto de cultura popular. Tinha não só teatro, como também o violão e os poetas de rua.




No cinema, acho que toda a vertente do Cinema Novo veio a partir do CPC. A gente procurava levar o teatro não só nos bairros e periferia, como também descobrir, em cada local, novos artistas. Depois, com o Golpe de Estado, o CPC foi fechado e aí entrei para o Teatro Universitário. Fiz o curso de ator e me formei em 1967. Fundei o Grupo Geração, com o Alcione Araújo e o Zé Antônio de Souza. A proposta também era fazer um teatro popular e político, pois a gente estava vivendo muito o processo de ditadura da época. Montamos "Chapetuba Futebol Clube", "Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come", ambos do Vianinha, "Morte na Sepultura", de Sartre e "O Santo e a Porca", do Suassuna. Tínhamos dois núcleos. Um de profissionais formados e outro de novos diretores, que viajavam pelo interior, com espetáculos mais amadores e experimentais. A minha primeira direção foi em 68, com "A Fábula da Hora Final". O Grupo foi até 1969, quando me mudei para Rio de Janeiro. Lá, trabalhei por dois anos como assistente de direção do Amir Hadad, com quem tinha um grupo no Museu de Arte Moderna, chamado Comunidade. Voltei para BH e comecei a dirigir vários espetáculos: "Fala Baixo Senão Eu Grito", "Há Vagas Para Moças de Fino Trato" com o Zé Mayer e, com o Galpão, "Corra Enquanto é Tempo", um texto meu de rua, e "Álbum de Família" do Nelson Rodrigues. Dirigi, também no Rio, "A Obscena Senhora D" e "Lágrimas de um Guarda Chuva", já na década de 90. Em Caracas, dirigi "Toda a Nudez Será Castigada", em uma produção super legal, que juntava atores argentinos, cubanos, venezuelanos e brasileiros e, na Suíça, "Esperando Godot".

FIT/BH - Em 1994 fui convidado pelo Carlão (Carlos Rocha) e pela Secretária de Cultura da época, a Antonieta Cunha, para fazer parte do FIT. Vim como um dos diretores do Festival, pois a gente não delimitava quem era o quê no começo. Aí aconteceu a cisão com o Grupo Galpão e virei Diretor de Programação. Mas o Carlão também viaja e indica grupos. Acho que poderia ter outros programadores, porque é meio ingrato. Nem sempre tem como viajar para assistir aos espetáculos e condição financeira para trazer os grupos que a gente gosta. É muita responsabilidade. Eu gostaria de trabalhar nas condições ideais. A gente idealiza uma nova edição, mas sempre esbarra no fator financeiro. E não é um problema dessa ou outra gestão. Em todas temos que explicar o que é o Festival, convencer, provar sua importância e vender o peixe como se o FIT já não tivesse quase 10 anos de existência. Isso é um desgaste. Sempre alguém tem que questionar porque é que o Galpão não está, sendo que o Galpão sempre foi convidado. É uma história que não acaba nunca. Acho que a dificuldade está em uma compreensão maior do significado do Festival para a cidade. Existe a participação do público e dos grupos. Há oficinas gratuitas, shows e toda uma abertura para os artistas da cidade. Nesta sexta edição, foi o ano que tive mais condições de viajar e escolher grupos que, para mim, são fantásticos. Mas tive que cortar cinco grupos que poderiam fazer deste o melhor Festival, tanto em diversidade quanto em qualidade, com uma dramaturgia aliada ao visual, à experimentação e pesquisa. É essa a dificuldade: ficar entre o ideal e o possível. Não estou dizendo, com isso, que o Festival decaiu, mas que poderia ser melhor. O mais legal, quando viajo, é descobrir grupos que não têm nome, não são famosos e são pequenas jóias. Nesse sentido, todos os espetáculos que estão vindo são essas pequenas jóias. É um teatro mais gestual, físico, visual, que também é ótimo, pois independe de idade ou idioma e são universais.

TEATRO MINEIRO - O teatro mineiro já foi melhor em relação à qualidade. Hoje está melhor em quantidade. O mercado cresceu muito. Tem novos autores, diretores, atores e as escolas soltam uma média de 100 formandos em teatro por ano. Mas essas pessoas vão trabalhar onde, com quem e como? A temporada popular é uma grande mostra. No Brasil, não vejo, nem no Rio ou São Paulo, essa pujança de quantidade de espetáculos como a que acontece nos meses de janeiro e fevereiro em Minas. E com público. Mas vejo também a tendência do apelo fácil. Vejo poucos novos diretores com idéias e profundidade para pesquisar, experimentar, procurar novos caminhos e alimentar o teatro. Mas acho que a tendência da quantidade é fazer surgir também a qualidade. Qualquer lugar do mundo é cheio de porcaria. Essas viagens me provam que o teatro é parecido no mundo inteiro e que toda grande cidade tem a coisa boa, a alternativa, a comercial e o picareta, com espaço para todos. Como dizia não sei quem: o mundo é uma grande churrascaria.

RECADO - Para quem faz teatro, peço que continuem, mas procurem fazer o melhor possível, porque o teatro é a arte que realmente vai ficar. O mundo está cada vez mais automático e virtual. O teatro é, a cada dia, mais concreto. É a vida pulsante. É o ser humano ali, de carne e osso, de emoção e ao vivo. Vai ficar cada dia mais difícil ver isso na arte. Acho que o teatro é a grande arte do passado, do presente e do futuro.

Coxia
Entrevista