Iluminador
e Técnico
Eu
fazia o curso técnico de eletrônica no antigo colégio da PUC,
em Coronel Fabriciano, onde tinha um grupo de teatro e o diretor
gostava muito de luz e recursos técnicos, aplicando tudo no espaço
em que a gente se apresentava. Então, acabei me direcionando para
a área técnica. Quando acabei o curso, tive que me decidir profissionalmente
e, entre 1987 e 1988, cheguei a trabalhar com iluminação em uma
TV em Ipatinga e com teatro amador, até ter vontade de vir a Belo
Horizonte para aprender realmente e ser profissional na área.
Em 1991, consegui um estágio de três meses no Palácio das Arte
e depois no Grupo Corpo, como ajudante do Eustáquio.
Depois, em 1993,
fui para o Teatro Marília e lá formamos o Núcleo Técnico de Artes
Cênicas, um grupo de técnicos formado por mim, Wladimir Medeiros,
Helvécio Izabel, Nilson Moreira e Júlio Meira. Com o tempo, o
grupo foi se transformando até cada um tomar o seu rumo e se acabar.
O primeiro espetáculo em que participei da criação da luz, junto
com o Carlão, foi o "Bodas de Sangue", dos formandos de 93, da
escola do Palácio das Artes, turma que deu origem à Trupe Pierrot
Lunar. Depois veio "A Prostituta Respeitosa", com o Júlio Mackenzie,
que foi uma busca de recriar ambientes de forma naturalista. Em
96, fizemos o nosso grande desafio, que foi "Alice", da Pierrot
Lunar. Um espetáculo em que a luz tinha que se desdobrar, pois
cada refletor tinha três ou quatro funções, por causa do posicionamento
do público que era itinerante. Para mim foi o grande aprendizado,
pois uma coisa é iluminar dentro de um teatro, onde se tem todas
as condições e outra é ir para um galpão vazio e ter que levantar
toda a estrutura, nem sempre com equipamento de luz tradicional,
usando dicróica, lâmpada de carro e uma mesa limitada. Outro trabalho
importante foi "O Beijo no Asfalto", do Wilson Oliveira, um trabalho
legal com uma linguagem diferente. Essa diversidade, trabalhando
com diretores e formas de teatro diferentes, foi o que fez o meu
aprendizado. Depois disso tudo, em 94, começamos a trabalhar com
o Grupo Galpão, com quem estamos até hoje e fizemos "O Moliere
Imaginário" - com a luz para rua, "Partido" e "Um Trem Chamado
Desejo". Praticamente, desde o início, quase todos os trabalhos
que fiz foram juntamente com o Wladimir Medeiros e, ultimamente,
também com o Chico Pelúcio, Felipe e Juliano. A proposta é fazer
microoficinas internas, estudando coisas novas e encarando a luz,
não só como uma coisa autoral, pois a gente é um instrumento de
iluminar, desde o projeto até sua realização. A criação de luz
é uma grande pesquisa que não tem fim. Todo artista tem uma fase
de descoberta, de amadurecimento e outra em que as coisas vão
perdendo o valor. Então, tenho a sensação de que, agora, outras
descobertas têm que acontecer para misturar com o que já aprendi
e estimular a criação. O que importa é o aprendizado e tentar
fazer com que a luz seja cada vez mais teatral e menos técnica.
Não só permitir a leitura visual do espetáculo, como também poder
participar do jogo teatral como um elemento cênico, que se comunique
com as outras estruturas cênicas, principalmente com o ator. Acho
que a luz tem que atuar mais. Não precisa ser tão atraente, ter
tanto efeito, mas ter uma função cênica de atuação mesmo. Coisas
bobas, como um foco interagindo com o ator ou com uma fala, me
fazem dar muito mais importância a esse tipo de jogo, do que propriamente
o visual bonito. Mas existe uma cobrança do mercado em relação
a isso e poucas pessoas abrem mão. Ser técnico é montar a luz
e ao mesmo tempo servir ao ator. O técnico está naquele meio para
atender bem e fazer o que pedirem, seja por conta própria ou em
equipe, dividindo as funções, pois não existe um bom técnico sozinho,
e sim, uma boa equipe técnica.
RECADO - Queria
dizer às equipes técnicas dos teatros de Belo Horizonte para não
acreditarem em um crescimento sozinho do técnico, mas apostarem
no crescimento em equipe. Com isso, a gente vai ter um bom teatro
e dar um staff técnico geral, fazendo um teatro mineiro cada vez
melhor. Que as equipes se entrosem e tenham condições de resolver
os problemas, que sempre surgem, com qualidade de trabalho.
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