Ator e escritor
""A primeira experiência que tive
com o teatro foi com 6 anos de idade, no SESC. Jogava bola com
a garotada perto de onde morava e lá estava acontecendo um ensaio
do Auto de Natal. Ao invés de jogar bola, comecei a ver os ensaios,
até que um menino que fazia o papel do pai que ia à guerra adoeceu
e a diretora me convidou a participar. Aceitei na hora, pois já
sabia o texto de todo mundo.
Passaram-se alguns
anos e tive uma experiência com o circo, por causa de um macaco.
Atrás do sobrado onde morava, tinha um estacionamento muito grande,
onde foi montado um circo de variedades. Um belo dia, cheguei
da aula e comecei a escutar uns barulhos esquisitos debaixo da
minha cama e, quando fui ver, era um macaco. Ele tinha fugido
desse circo e parado lá no meu quarto, pois a janela ficava aberta.
Aí comecei a fazer amizade com ele e dava comida. Fazia tudo sem
ninguém saber e o escondia no meu armário. Passaram-se algumas
semanas e o pessoal do circo foi reclamar, porque viram o macaco
entrando no meu quarto. Minha mãe já olhou para mim, pois sabia
que tinha alguma coisa errada, porque eu não saía do quarto. Depois
da choradeira, disse que só devolveria o macaco se eu fosse todos
os dias para o circo cuidar dele. Passei a freqüentar o circo
e quando estavam indo embora, me chamaram para viajar com eles,
já que eu estava de férias. Meus pais deixaram e fui aprendendo
outras coisas, fui visitar outros circos, vi o trapézio e me encantei.
Aos trezes anos, em um circo chamado "Circo Paz e Amor", eu já
estava voando e dando, inclusive, o salto triplo. Parei para servir
exército e lá tive a minha outra experiência com teatro. Formamos
um grupo de soldados para fazer uma peça dentro do quartel. Foi
um sucesso e repetimos várias vezes em outros quartéis. Quando
saí fui trabalhar com outras coisas, continuar meus estudos e
quase me formei em Engenharia. Hoje sou Projetista. Mas um belo
dia enchi o saco, pedi demissão e fui me entrosar com o pessoal
de teatro. Já conhecia o Javer Monteiro, comecei a freqüentar
a Oficina de Teatro do Pedro Paulo Cava e pintou, com o Jota Dangelo,
a primeira peça que posso dizer ter sido profissional: "O Caminho
das Pedras Verdes". Daí não parei mais. No meu currículo são 41
espetáculos feitos. Em cinema fiz quatro longas: "O Grande Mentecapto",
"Tiradentes, o Filme", "O Circo das Qualidades Humanas" e "Aleijadinho".
Fiz uma minissérie chamada "O Namoro no Opala" e outra da TV Bandeirantes
que, infelizmente, não foi ao ar e chamava-se "O Amor no Quinto
dos Infernos". Agora estou ensaiando com o Grupo Galpão "O Inspetor
Geral", com direção de Paulo José. Nunca tinha trabalhado com
grupo, só no circo. Mas é outro estilo. Está sendo muito legal
e tem me ajudado muito, porque esse negócio de ser ator independente,
faz a gente ficar muito indisciplinado, às vezes. Tive um pouco
de dificuldade, mas agora acho fenomenal, porque o ator tem que
trabalhar mesmo. Tenho aprendido muito com o Paulo José, que é
um homem muito experiente, uma pessoa muito consciente e de uma
cultura fabulosa. É com os grandes que a gente aprende ainda mais.
MISSÃO DO ATOR
- Para chegar a dizer sou ator, tem que ter muito trabalho.
Não é pensar em chegar no teatro e colocar a carinha bonitinha,
que depois vai para uma rede de televisão de grande porte. O artista
se sente um Deus após o terceiro sinal e é um poder tão gostoso!
A missão do ator, então, é transmitir essa sensação e toda essa
carga de felicidade para o público e mostrar para as pessoas como
elas são.
TEATRO MINEIRO - Antigamente nós trabalhávamos de terça
a domingo, e a nossa única folga era na segunda-feira. Depois
foi caindo para quarta a domingo, quinta a domingo e, agora, muitos
só fazem temporada de sexta a domingo. Então, a coisa está apertando
e é pela falta de público. Acho que as peças daquela época tinham
mais qualidade, talvez por serem feitas por atores mais experientes
e com escolas boas. Hoje, tem muita quantidade e pouca qualidade.
Eu mesmo não tive escola e fui aprender na porrada. Mas já comecei
bem, com Jota Dangelo, e passei por ótimos diretores como o Carlos
Rocha, Paulo César Bicalho, Afonso Drummond e muitos outros que
me ensinaram e me deram bagagem. Observava os atores mais antigos,
o que me fazia aprender. Tive outros mestres, como o Etienne Filho,
Paula Lima e Ronaldor, que me assessoravam, assistindo às minhas
peças e conversando comigo depois. Que Deus os tenha, inclusive.
Outra coisa que percebo, é que os atores de agora também não estão
dando material ao diretor. O ator tem que dar muito para que o
diretor possa escolher como vai começar a moldar o espetáculo.
É mais fácil cortar do que colocar. Percebo ainda que o público
não está querendo os dramas. As comédias é que estão sendo mais
montadas. Acredito que tudo isso começou com o besteirol. É um
tipo de peça que não leva a nada e não gosto. Gosto de comédia.
Na Campanha de Popularização, a gente percebe isso perfeitamente.
Depois que entrou o besteirol, houve uma queda muito grande da
qualidade e, como não se está preocupando com os futuros atores
que estão chegando aí agora, a qualidade no palco também está
caindo bastante. Preferem chamar quem está começando, talvez para
pagar menos ou porque a pessoa é mais nova e mais bonita. Tem
muita gente talentosa chegando sim, mas tem que trabalhar e ler.
Tenho 25 anos de teatro e, quando comecei, paguei muito para fazer
teatro. RECADO - Como eu gosto tanto de teatro e atuar é a minha
vida, quero dizer para os produtores e diretores que tenham mais
cuidado com a montagem e a qualidade de uma peça teatral. Tenho
ficado triste quando vou assistir à uma peça e, mesmo que não
goste, não tenho nem crítica para esboçar. É tanta coisa ruim
sendo feita, que me deixa engasgado e com vergonha pelos outros
atores. Peço que essas pessoas tenham mais carinho com o nosso
teatro, porque isso não pode continuar assim.
PALCO BH -
É uma grande iniciativa, porque agora a gente tem essa palavra,
de poder falar do meu trabalho, do trabalho das pessoas e chegar
às mãos dos que realmente se interessam. Circula em todos os meios,
é pequeno e informativo. É de grande serventia para nós, porque
nos interamos de coisas que não saem em um jornal comum. Toda
vez que eu pego o Palco BH, tem uma pessoa mandando o seu recado
e agradeço a oportunidade de estar expondo as minhas idéias e
um pouquinho da minha história."
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