CHICO PELÚCIO

Diretor e ator (Grupo Galpão)

"A minha vida no teatro se confunde muito com a trajetória do Galpão. Eu comecei basicamente trabalhando com o Grupo e, ao longo desses dezoito anos de trabalho, cometi algumas infidelidades profissionais. Foi quando eu comecei de fato a dirigir Companhias, grupos e espetáculos que, de certa forma, também tinham a ver com o trabalho que eu e o Galpão fazíamos. Nestes dezoitos anos, dirigi mais de quatro espetáculos fora do grupo, fiz assistência de direção do Eduardo Moreira no "Doente Imaginário" e agora estou tendo a oportunidade de dirigir, pela primeira vez, o próprio grupo e os próprios companheiros que, de uma certa forma, têm a mesma formação que eu. Então, está sendo um momento super importante, principalmente para mim. É um momento de muita generosidade, porque é difícil um ator que se formou com outro, de repente, em um outro momento, o estar dirigindo. Então, é uma fase muito bacana de todos, principalmente deles comigo.

O espetáculo se chama "Um Trem Chamado Desejo", que tem algumas coisas especiais. O eixo e a origem do espetáculo vieram do próprio grupo, dos próprios atores. O argumento do espetáculo foi pensado por nós e o sugerimos para o Luiz Alberto Abreu, que fez o texto final. A gente está tratando de desejos dos atores e de uma Companhia que se chama na peça "Companhia Alcantil das Alterosas", e de uma realidade nossa: a realidade de Minas Gerais. Como é sobreviver numa cidade que está fora do eixo Rio-São Paulo. Uma Companhia que sofre todas as crises possíveis, seja de identidade, financeira, artística, enfim, estamos falando de nós mesmos, metaforizado na década de vinte e colocando esta crise ou esta busca de identidade e necessidade de sobrevivência de cara com o cinema, que é uma coisa que estamos vivendo nos últimos anos, a revitalização do cinema. Como é que o ator está para o teatro, está para o cinema, para a televisão, para outras linguagens e como isso influencia a vida de uma Companhia que, principalmente, não tem a vitrine do Rio e de São Paulo. Tudo isto contextualizado dentro de Belo Horizonte. A grande vantagem é o argumento ser do ator, estarmos falando de nós mesmos, da nossa realidade, uma dramaturgia nova, fresquinha e que fala de Belo Horizonte e tudo que está contextualizado dentro de BH. Então, acho que é um ganho. Se a encenação for tão boa quanto a idéia, o argumento, seguido do texto do Abreu e também correspondendo à música e letra do Tim Rescala, que é muito bacana, eu acho que o espetáculo pode "correr o risco" de ser bem sucedido."

O GUIA - "Acho super bacana. A primeira coisa para um artista, uma produção ou um mercado de fato se consolidar é a informação. O Gabriel Vilela brincava dizendo: "não adianta o Papa vir a Belo Horizonte se ninguém ficar sabendo." Então, acho que o guia vem, de certa forma, abrir este espaço para divulgação, para estar se comunicando com o público e criando o hábito de se recorrer a alguma coisa profissional, bem feita, que respeita principalmente a produção e o mercado de Belo Horizonte. A realidade que vivemos, no sentido de galgar um degrau nesta nossa batalha de criar a própria cara, nossa própria vida, nossa própria atmosfera, enfim, nossa própria identidade cultural. Acho que o guia é fundamental e muito obrigado por existir."

Coxia
Entrevista