ANDRÉIA GARAVELLO

Atriz e Diretora da Garavello Cia. das Artes

"Dizem que ator e atriz começam do início mesmo, ou seja, desde que nascem. E o meu caso foi um pouco esse também. Profissionalmente, venho da Oficina de Teatro, como tantos outros da minha safra: Wilson Oliveira, o Grupo Encena todo e muitas pessoas.



Formei-me em 1983 e, de lá para cá, não parei mais. Formamos o grupo "Experimentando o Palco" e fizemos duas produções, uma em 84 e outra em 85. Em 86, recebi um convite para atuar fora do Grupo, para fazer o espetáculo "Lua de Cetim", com produção do Pedro Paulo Cava. Depois daí, voltei a ser produtora e atriz com o espetáculo "O Casal Aberto", "Palavra de Mulher", "Fulaninha e Dona Coisa", "Dom Chicote e Mula Manca", "Fábulas Ponto Com" e, agora, o "Lua de Cetim", renovando aí uma carreira que, até então, era meio solitária e hoje é com uma Cia. mais ou menos fixa. Anteriormente, era sócia do Luiz Hippert, do Banco de Idéias, de quem tenho que falar, por ter sido super importante na minha vida e carreira. Aí, a gente acaba trabalhando com as mesmas pessoas, porque acaba gostando, cria uma afinidade e já começa a chamar aqueles que vão dando certo. Então, a Cia. foi uma coisa natural. Agora, o que estou pretendendo fazer, é emprestar esses quase 20 anos de carreira, de nome e abertura de mercado que eu, pessoalmente, tenho para um grupo por achar ser, definitivamente, a melhor forma de a gente subsistir nessa nossa área cultural. Só neste ano, a gente já estreou o "Lua de Cetim" e o "Fábulas Ponto Com", através do Teatro Cauê nas Escolas, fazendo cerca de 50 apresentações. A princípio, a Cia. tem trabalho até novembro de 2002 e, pelo retorno que estamos tendo, a tendência é continuar por mais tempo.


TEATRO MINEIRO
- Sem dúvida nenhuma, acho que o teatro mineiro melhorou muito. O mercado cresceu e o profissionalismo também, o que já começou na minha época da Oficina de Teatro, em 81, na qual as pessoas de qualidade no teatro começaram a ficar na cidade. Foram pessoas saídas da Oficina, do TU e mais tarde da escola do Palácio das Artes, com uma formação mais adequada, com mais qualidade de atores, diretores e produtores. Se o produto melhora, melhora também o cliente e o número de espectadores. Mas ainda acho que o nosso mercado tem uma timidez para extrapolar. Um exemplo disso, é a Campanha de Popularização do Teatro que, em 2002, pelos dados, teve um público de 10% da população de Belo Horizonte. Isso é uma coisa fantástica que, na proporção, não tem nem em São Paulo. Só que não vira notícia, assim como um FIT, que traz coisas para BH que não vão em outros lugares do País, um FID e outros exemplos, que o mineiro ainda fica tímido. A gente tem que avançar nisso, através do Sindicado dos Produtores, Sindicato dos Atores e tornar notícia nacional, porque infelizmente, o que é nacional é que vira notícia aqui. Nós temos, com exceções, uma imprensa colonizada. Acho que isso é o "calcanhar de Aquiles" desse mercado. Fazemos aqui produções de alta qualidade e temos grandes chances de sermos vencedores e bons empreendedores. Temos sim que rever algumas questões das leis de incentivo. Mas para isso devemos ter uma postura CUT, sindicalista mesmo. Não dá mais para sermos uma categoria esfacelada, com cada um por si. O grupo é que tem força política. Se as pessoas não tomarem consciência de que não adianta ficar lutando sozinho, ninguém segura o nosso mercado, definitivamente.

ESPAÇO - Já há muitos anos, meu grande problema era ter um espaço para trabalhar. Tive algumas oportunidades, não quis na época, e a que está passando agora é a do Teatro do Clube dos Oficiais, no Prado. Mas lá tem algumas questões meio melindrosas. As pessoas não entendem nada do assunto e querem administrar uma coisa que não é feita daquela forma. A discussão, por exemplo, é a do tipo: por que 20% do teatro e 80% do produtor? Acham que deve ser meio a meio. Não entendem disso. Mas estou em negociação para resolver esse problema. Há também uma grande chance de um pequeno teatro em Santa Tereza, para reavivar a memória do Manoel Teixeira. O que já temos é um galpão no Prado, que vale dizer aos produtores leitores do Palco BH que é um espaço aberto para ensaios. Sei do grande problema que é ter um lugar para ensaiar e guardar material e, por isso, a gente só cobra o que der para manter o local, tentando, dessa maneira, facilitar a vida de todos nós. É assim que a gente vai vencer. Não tem outra forma.

RECADO - Nos dias de hoje, dessa globalização, colonização, de uma ditadura que não mostra a cara, ficando assim mais difícil lutar contra ela, sem pieguice, eu digo: colegas, amigos, artistas e produtores, vamos nos unir, porque não existe, historicamente, nenhum império, nenhum poder político que conseguiu se manter, com um povo forte. Se esse povo tiver que ser a nossa categoria artística, vamos fazer isso para a nossa subsistência. Não se vive sozinho. Vamos tentar organizar melhor isso, para podermos viver, com dignidade, daquilo que a gente sabe fazer.

Coxia
Entrevista