Atriz e Presidente do SATED/MG
(Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões)
"Fazia Faculdade de
Direito na Milton Campos em 1978, quando comecei a fazer um curso
de teatro. Era o Teatro-Escola da Cruz Vermelha que, na época,
era dirigido pela Priscila Freire. Aliás, fui aluna só de gente
boa: o Ítalo Mudado, Márcio Machado, Lúcia Couto e Roberto Fabel.
Profissionalizei-me em seguida e tranquei o curso de Direito,
pois, em 80, fui convidada para fazer "Dona Beija" no Palácio
das Artes. Para quem estava começando, era o maior contrato que
poderia aparecer. Depois disso, o caminho mudou muito e minha
vida também. Fiz espetáculos que me gratificaram. Houve uma época
em que fazia até três na mesma temporada. "Peter Pan", no Teatro
Marília às 16h30; "Liberdade, Liberdade", às 18 horas, no Chico
Nunes e "Dagmar, a Perigosa", às 21 horas no Teatro Marília. Toda
essa maratona em 94 e 95, sendo ainda, Presidente do Sindicato.
Graças a Deus, tive um reconhecimento muito grande dos meus colegas
e da crítica. Ganhei o prêmio Bonsucesso de melhor atriz com peça
"A Prostituta Respeitosa" e fiz também bons espetáculos infantis,
como a primeira montagem do "Alice no País da Imaginação"."
SATED – "Jamais
pensei que fosse ser Presidente do Sindicato dos Artistas. Seguia
a carreira de atriz e trabalhava como auxiliar de escritório no
Sindicato. Comecei a entender o funcionamento do Sindicato, até
que veio a época de eleições e o pessoal que me conhecia foi fazendo
pressão para que eu me candidatasse. Fui eleita em 92 e estou
no SATED desde então. Esses nove anos trouxeram um grande amadurecimento
para mim. Muitas ilusões foram evoluindo para um esclarecimento
maior sobre o que é a vida do artista propriamente dita. O SATED
foi uma prova muito difícil. Por isso, eu não canto vitória aqui
dentro de jeito nenhum. Mas aí as coisas foram melhorando, os
problemas foram se resolvendo na cabeça das pessoas e na minha,
e o sindicato foi se desenvolvendo, tentando conquistar a categoria
outra vez e, hoje, acho que é de novo um Sindicato dos Artistas."
PREMIO – "O Prêmio
Sesc/Sated sempre foi por votação direta da própria categoria.
Fazemos questão de manter esse critério, justamente por ser da
classe. Muitos jornalistas criticam a forma de premiação, porque
dizem dar margem ao "lobby". Mas nós estamos investindo no amadurecimento
da categoria. Um dia, vai vir todo mundo votar e não vai ter "lobby"
que resista. Além do mais, é um fator de organização da categoria.
Só participa do prêmio quem tem registro profissional. Agora,
se a categoria não quiser mais que o critério seja assim, é só
falar que a gente muda. Por enquanto, parece que estão de acordo,
pois ninguém reivindicou nada em contrário. O prêmio foi uma das
coisas que contribuiu muito para a reaproximação da categoria.
Ele promove uma interação diferente da que ocorre no boteco. O
prêmio reúne todos. Tudo é oferecido com muito carinho. O artista
precisa ser bem tratado e ter um baile, pois isso tudo traz um
pouquinho mais de glamour a nossa vida. Para o artista, aparecer
não é somente uma questão de vaidade, é necessidade mesmo. Ele
precisa ter visibilidade para ter valor de mercado. E eu tenho
muito a agradecer ao Sesc. Além de ser patrocinador do prêmio,
ele dá vários outros apoios para o nosso Sindicato. Nossa parceria
é baseada em amizade e reconhecimento de necessidades."
MERCADO – "Nós
temos muita preocupação com o comportamento do próprio artista
dentro do mercado de trabalho. O artista é um trabalhador com
características específicas muito bem definidas, mas é um trabalhador.
Vai ter que disputar qualidade igual aos outros. Nos comerciais
de televisão, por exemplo, muitas vezes, mais de cem pessoas vão
fazer um teste. Todo mundo fica numa sala esperando, esperando
e não recebem um script direito, não sabem o que é. O ator fica
ali jogado, parecendo uma feira. É de quem pegar. Muitas vezes,
sabemos que o casting do comercial já está escolhido. Então, por
que fazer esta palhaçada com o artista? Sei até de verdureiro
do Mercado Central fazendo teste para ator. O ator é para ser
motorista, verdureiro, ser tudo, sem ser de verdade. Ator é para
ser. E existem muitos para fazer isso. Por que chamar outro? Minas
Gerais está ao nível de qualquer Estado. Aqui, nós somos formados
no palco, o que não acontece lá fora. Artista de televisão não
faz teatro assim tão fácil. Ator de teatro faz qualquer veículo
sem muita dificuldade. Acho que a solução está na própria conscientização
da categoria. Temos agora esse terrível racionamento de energia,
quando teremos que descobrir como vamos continuar sendo artistas.
Um refletor gasta 1000 Watts de potência. E a televisão? Acho
que tudo vai ter que cair em uma forma boa para todos. É a hora
da fraternidade. É preciso que a categoria se entenda mais. As
pessoas não devem se esquecer que somos todos parte de uma só
humanidade e que os artistas é que podem transformá-la. Temos
tudo para isso."
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