MOACIR SALVIANO

Ator

"Estou completando 40 anos de teatro e comecei trabalhando antes mesmo de entrar para o TU (Teatro Universitário). Fazia peças infantis no colégio. Com isso, alguns professores quiseram me levar para a TV Itacolomi, onde havia um programa chamado "Grande Teatro Lourdes", mas o programa acabou logo em seguida e a TV foi extinta. Aí, o Júlio Varella, que era secretário da Haydée Bittencourt, diretora do TU na época, chamou-me para fazer a prova para entrar na escola. Fiz e fui até muito exagerado, pois quis interpretar tão bem, que caí e bati com a nuca e quase me machuquei. Comecei no TU em 1964 e quando estava entrando, estavam terminando o curso os atores José Antônio de Souza, Aziz Bajur e toda uma turma da antiga que fazia a peça "Sonho de Uma Noite de Verão", de Shakespeare, dirigido pela Haydée. Substituí um dos atores e viajamos para São Paulo para uma temporada de 15 ou 20 dias. Nesse tempo, eu estava fazendo um cursinho para o vestibular de Direito, mas consegui conciliar e deu tudo certo. Durante o curso, fui fazendo outras peças: "As Casadas e Solteiras", "O Homem da Clarineta" e "Coronel de Macambira". Em teatro me formei em 1968 e em Direito, no ano de 1970. Já formado no TU, atuei em "El Rei Seleuco", "Diretas, Onde Já Se Viu", escrita e dirigida pelo Luiz Paixão e, logo em seguida, "Os Contos Eróticos de Decameron", dirigida por Ricardo Batista. Mais tarde fiz "O Patinho Torto" e "A Venerável Madame Gonot". Fiz também muitas peças infantis. Em 67, quando fui a Congonhas fazer uma comédia chamada "A Farsa de Inês Pereira", de Gil Vecente, conheci o José Mayer que, na época, era um rapazinho estudante de um colégio da cidade. Quando ele veio para Belo Horizonte, fizemos "O Ladrãozinho Biruta", uma peça infantil escrita por ele em que trabalhamos juntos. Em 1970, fiz "A Doce Guerra da Passarela" e foi o maior sucesso. O José Mayer me aconselhou a ir embora para o Rio ou São Paulo para seguir melhor a minha carreira artística, mas me casei, vieram os filhos e fui ficando agarrado à família, que é tudo na minha vida, e a BH, que eu adoro. Depois, o Ronaldo Boschi me convidou para fazer a comédia "Amanhã é Dia de Pecar" do João Bittencourt. Mais tarde, o Ílvio Amaral e o Maurício Canguçu me convidaram para trabalhar. Aceitei e estou com eles até hoje, nesses últimos 10 anos. Fizemos "Alfredo Virou a Mão", "A Comédia dos Sexos", "É Dando Que se Recebe", "Adorável Pecado" e, desde o ano passado, voltamos com "Alfredo Virou a Mão". O teatro, para mim, é uma escola. Com ele se aprende tudo. O palco é a minha casa. No camarim, antes do espetáculo, rezo junto com elenco, peço por um bom espetáculo, pela minha família e meus colegas, mas quando estou no palco, não me lembro de nada, nem da família. Só me preocupo em transmitir aquilo que o público vai gostar de ver. Além de ator, sou advogado há 31 anos, cantor de seresta, toco violão em uma missa, sou conselheiro do CRECI, membro da Comissão de Esporte e Lazer da OAB, conselheiro e diretor da Associação dos Advogados e conciliador do Juizado de Pequenas Causas da Cidade Nova. É tanta coisa que, se eu parar, durmo de cansaço. Mas faço porque gosto.


RECADO -
Agradeço primeiro a Deus, por ter me dado esse dom, e a todas as pessoas que acreditaram no meu trabalho, principalmente, a Haydée Bittencourt. Agradeço também a Otávio Cardoso, Carlos Leite, Paula Lima e João Etiene (já falecidos). Queria dizer que a humildade é algo fundamental, não só para o ator, mas em qualquer profissão. Sempre peço aos meus colegas para serem humildes, ajudarem uns aos outros e nunca prejudicarem um colega. Não há preço que pague isso."

Coxia
Entrevista