JOSÉ MARIA AMORIM

            Cenotécnico, Iluminador e Ator

"O técnico nunca está separado do ator. Na maioria dos espetáculos que fiz, sempre estava atuando como montador, cenotécnico, iluminador e também ator. Comecei a fazer teatro em 1967, no Teatro Experimental, com o Jonas Bloch e o Jota Dangelo. O primeiro espetáculo foi "Oh, oh, oh, Minas Gerais", maior sucesso do teatro mineiro daquela época, onde atuava como ator e cenotécnico. Depois disso, em 1975, o Teatro Experimental foi dissolvido para a formação de um grupo com os mesmos elementos, mas as pessoas tinham dupla função. O ator era também cenógrafo ou iluminador, diretor, captador de recursos e por aí vai.

 

Formar um grupo é a melhor maneira de se fazer teatro no Brasil. Nesse tempo todo, juntei a bagagem de 36 espetáculos como ator e uns 300 como cenotécnico, participando de todos os festivais de inverno de Ouro Preto da década de 70. Nos anos 90 criei a oficina de técnica de palco, tamanha a minha preocupação com a carência de técnicos. Atuam, nessa área, várias pessoas curiosas, sem o mínimo de conhecimento, achando que abrir uma cortina, operar um gravador ou simplesmente uma mesa de luz é função para qualquer um. Nós temos o Sindicato dos Artistas e Técnicos (SATED), do qual sou um dos fundadores e que veio justamente cobrar esse tipo de formação técnica e sua sindicalização. Mas há muito tempo não vejo mais essa fiscalização por parte do Sindicato. O técnico é tão importante quanto um ator ou bailarino e tem a mesma sensibilidade. Eu sou do tempo, e passo para a moçada jovem, que o técnico devia estar tão ligado ao espetáculo quanto o ator, pois ele tem a máquina na mão. Se, de repente, uma luz não acende ou um refletor queima e ele não procurou o recurso, aí ele não está integrado ao trabalho. Então, resta a minha preocupação de realmente informar o que é uma técnica de palco. Atualmente, dou aula na Oficina de Teatro da PUC e passo essas dicas para atores, bailarinos e diretores, pois muitos deles fazem teatro e desconhecem inteiramente os bastidores. Estou cansado de ver artistas com experiência que não sabem se colocar debaixo de um refletor ou usar a cenografia como devem. Tive a felicidade de participar dos mais importantes espetáculos de duas décadas em BH. Fui o primeiro cenotécnico a trabalhar com o Giramundo e, além disso, já executei vários projetos de reformas e construções de teatros aqui, em Ouro Preto e Vespasiano. Acho que o teatro caiu muito em termos técnicos. Hoje, a gente não vê mais as grandes cenografias da década de 70, pois não estão mais se formando cenógrafos do naipe de um Raul Belém Machado. Mesmo sendo um espetáculo pequeno, tinha um cenário bonito, imponente e uma bela iluminação, feita com apenas 40 refletores.

Simplesmente, as pessoas entram em um teatro sem um roteiro de iluminação e não têm mais a preocupação em fazer uma grande montagem, o que não deveria estar acontecendo, pois a maioria dos teatros hoje está muito bem equipada. Realmente, nós não temos cursos para formação de técnicos. O que existe é o que faço, por exemplo. Uma oficina com informações básicas sobre equipamentos, montagens, afinações e uma certa noção do que é iluminação, montagem cenográfica, como cuidar do palco depois de uma cenografia bem montada e como fazer uma boa instalação dos bastidores. Criei uma apostila de iluminação com informações razoáveis e estou preparando um livro que penso ser uma primeira cartilha para os trabalhos técnicos. É claro que o aluno não sai desta oficina como um técnico. Ele terá que ter a prática e trabalhar muito, como aconteceu comigo, seguindo a coisa mais importante no trabalho técnico que é a disciplina. Com ela, começa-se a ter a vontade, a garra, o exercício constante e, conseqüentemente, a habilidade. A minha geração veio para mudar e trouxe uma nova proposta. A de o técnico ser capaz de montar a cenografia, iluminar, sonorizar e operar os espetáculos. Dessa geração temos ainda o Felício Alves e alguns que surgiram um tempo depois, como o Eron Loreto, o Antônio Amorim, os irmãos Flávio e Márcio e alguns outros. Nós recebíamos os espetáculos sem conhecimento nenhum, entrávamos no teatro num dia e saíamos no outro, depois da estréia, pelo prazer de operar bem um espetáculo. "

RECADO - Para as novas produções: cuidem mais da cenografia, da iluminação e entreguem os trabalhos a quem é de direito e a quem tem competência. Não quero, com isso, excluir os novatos. Nesse caso, traga-os para junto dos experientes e coloque-os para trabalhar em equipe para que saia dali um bom trabalho."

Camarim
Entrevista