ÁLVARO APOCALYPSE

Diretor do Grupo Giramundo


"Comecei a me interessar por bonecos quando era menino, em uma brincadeira que herdei dos meus irmãos. Naturalmente, durante a adolescência, abandonei esse aspecto lúdico para me preparar para os estudos e etc. Mais tarde, entre 1960 e 1962, reativei esta atividade através de tentativas de fazer cinema e desenho animado. Mas como era muito complicado, resolvi fazer teatro de bonecos. Depois de muita tentativa aqui, fui passar um ano na Europa, através de uma bolsa de estudos, onde conheci o teatro de marionetes de lá. Pensei, então, que poderia fazer o mesmo aqui e foi o que aconteceu."

GIRAMUNDO - "No início da década de 70, na Escola de Belas Artes, houve várias tentativas de se fazer um teatro bastante visual com bonecos. Nós tínhamos as técnicas possíveis dentro da Escola para realizar máscaras e esculturas, mas o pessoal desanimava. Ninguém tinha aquele espírito que eu, Tereza Veloso – minha esposa - e Madú, ex-aluna, tínhamos. Então nos reunimos e fundamos o Giramundo no segundo semestre de 1970. Era uma técnica nova para nós, pois necessitávamos de 19 vozes, mas tínhamos apenas 3 atores/manipuladores. Então gravamos as nossas vozes e as vozes dos nossos amigos atores que foram convidados. Só assim foi possível fazer com que o grupo iniciasse a sua carreira. Hoje, nós trabalhamos nas duas linhas, tanto com vozes gravadas, como também diretamente ao vivo, quando a técnica permite.

Começamos com a "A Bela Adormecida" (maio de 71) que já teve quatro remontagens com o mesmo texto, mas com bonecos melhores e técnicas e cenários novos. Depois veio "Um Baú de Fundo Fundo" (1975 a 78), um texto nosso, que tratava do nosso folclore, com músicas, cantigas e casos. Essa foi a primeira peça que levamos para fora de Minas e teve uma repercussão muito grande. Daí aconteceu a opera "El Retablo de Maese Pedro". Encomendaram-nos os bonecos e sugerimos que eles fossem feitos em tamanho natural, no lugar dos atores e cantores. O Maestro Manhani, responsável pela montagem, aceitou a idéia e fizemos a ópera de bonecos com cantores e Orquestra Sinfônica. Primeiro a Orquestra do Festival de Inverno, depois a Orquestra da UFMG e, por último, a Orquestra do Teatro Municipal de São Paulo. Saímos no Fantástico e em todas as revistas e jornais nacionais, o que tornou o grupo bastante conhecido. Houve uma crítica favorável, dizendo que nós havíamos aplicado muita energia e força em um texto estrangeiro. Então, buscamos um texto brasileiro e encontramos "Cobra Norato", que foi o marco definitivo do Grupo. Foi o que estabeleceu o Giramundo como um grupo de pesquisa e o que nos deu muitos prêmios. Fizemos ainda "O Guarani" e "O Diário".

Hoje, o Grupo está bem organizado e estruturado, mas ainda vive com muita dificuldade. Tivemos uma parceria com a UFMG durante 22 anos e, agora, na área privada, está dando muito certo. Em pouco tempo que saímos da Universidade, já conseguimos um espaço próprio, estamos organizando um museu que será brevemente inaugurado e estamos desenvolvendo várias linhas de trabalho: O "Gira Gerais", um espetáculo voltado para a classe operária em Mariana, e o "Circo Teatro Maravilha" no nosso Teatro. Vamos estrear "Os Orixás" que trata da mitologia africana. Com esse espetáculo nós concluímos um ciclo sobre as culturas que são a base da civilização brasileira: "Cobra Norato", "O Guarani" e "Os Orixás". A música foi gravada em um Candomblé e o espetáculo estréia neste mês de maio."

TEATRO GIRAMUNDO - "Antigamente, nós ensaiávamos a luz, som e tudo mais praticamente na véspera da estréia. Tudo era feito separadamente em pequenos pedaços e só reunido no teatro em que iríamos apresentar. Isso durou por muito tempo, até que conseguimos esse espaço, onde podemos ensaiar quanto tempo for necessário e com a luz que quisermos. Nos outros teatros tínhamos que nos adaptar ao que sobrava dos outros grupos, e quando sobrava. Aqui, o nosso pessoal está mais familiarizado com a parte técnica e está sendo muito positivo."

 

Coxia
Entrevista