Atriz, Diretora e Presidente
do MTG/MG
Eu
comecei a fazer teatro em 1976 no Instituto de Educação, onde
estudava e fiz uma oficina com Helvécio Ferreira. A partir daí,
fiz o meu primeiro trabalho profissional com 16 anos: o espetáculo
"João Bolinha Virou Gente". Em 81 fazia "A Lição" de Ionesco,
quando Carlos Rocha (o Carlão) foi assistir ao espetáculo, gostou
e me convidou para fazer "O Processo" de Kafka, na Cia. Sonho
e Drama. Acabei me interessando pela proposta do grupo e pelo
texto também. Foi, praticamente, o início da carreira da Cia.
e do trabalho do Carlão como diretor e adaptador. Na Sonho e Drama
fiz muitos trabalhos como atriz: "A Metamorfose", "Grande Sertão
Veredas", "Antígona", " Vida de Cachorro", todos com a direção
do Carlão. Em 88, o Carlão e o Paulão (Paulo Lisboa) se afastaram
para montar um trabalho separadamente e o grupo rachou. A gente
tinha o espetáculo infantil "Vida de Cachorro" em repertório,
o que muito nos salvou. Aí, eu virei diretora. Faz 11 anos que
estou dirigindo, sendo o primeiro trabalho, "A Casa do Girassol
Vermelho". Depois, fiz ainda, "Caminho da Roça", "Aníbal Machado"
e "A Bonequinha Preta". Tive também a oportunidade de dirigir
fora do grupo, como em "Bodas de Sangue", com os alunos do Palácio
das Artes, inclusive, os atores e produtores deste guia, "Alma
Boa de Setsuan", em 95, com os alunos do TU (Teatro Universitário)
e, em 98, voltei ao Palácio das Artes, com uma adaptação do romance
de José Saramago, "Um Ensaio Sobre a Cegueira". Em 97, montei,
com a Cia. Acaso, o espetáculo "A Hora da Estrela" de Clarisse
Lispector. Fizemos temporadas muito boas como a Campanha de Popularização,
o FIT (Festival Internacional de Teatro), em 98, e um circuito
muito bacana ligado ao Sesc do Rio chamado "Palco Giratório".
Tivemos uma experiência muito boa em Santa Luzia, onde desenvolvemos
um projeto chamado Estação Santa Luzia, de 96 até 98, quando,
infelizmente, por questões políticas, mais uma vez, fomos surpreendidos.
Os artistas sempre são surpreendidos pela política passando por
cima das questões culturais. Hoje, a Sonho e Drama mudou de nome
e se chama Z.A.P.-18, e estamos montando com a Cia. Acaso, "Sonho
de Uma Noite de Verão" de Shakespeare, que terá estréia neste
mês.
Exerço também, há quase
10 anos, com a atriz Elisa Santana, oficinas, em que levamos o
trabalho de pesquisa que fazemos no grupo. Não é uma formação
acadêmica e sim livre. A experiência mais recente foi com o "Arena
da Cultura", um projeto da maior seriedade, com resultados muito
bons e eu espero e faço um apelo à nova Secretária para que o
mantenha e o amplie. A periferia não pode ser usada para projetos
temporários, que dão certo e, de repente, todos somem e nunca
mais aparecem para dizer algo.
O TEATRO MINEIRO
– "Acho que houve um amadurecimento e hoje está mais claro o campo
de trabalho de cada um e, inclusive, andamos até nos aproximando
para discutir coisas em comum. Fico muito chocada quando ainda
vejo pessoas querendo falar contra um evento e outro, ou contrapor
Campanha de Popularização ao FIT. São duas coisas tão diferentes,
que não temos que comparar. Todas são importantes. Deve ser "tudo,
ao mesmo tempo, agora".
"Eu sou meio nostálgica
e tenho uma tendência em ver o passado com um olhar doce e, às
vezes, me pego com saudade de alguns anos atrás, por sentir que
hoje o profissionalismo tomou conta de tudo e, em um certo sentido,
está impedindo que determinadas coisas aconteçam. Tudo está tão
profissional que só se fala de preço, datas, prazos, leis, captações
e, penso, se por trás disso não tem muita coisa bonita morrendo.
Apesar disso ser inevitável, ser natural e ter o lado bom, tento
preservar com as pessoas que trabalho, essa relação de amor pela
profissão e como ela pode transformar. Qualquer pessoa que trabalha
com criação artística pode pensar na questão do dinheiro e da
sobrevivência, mas como uma decorrência."
MOVIMENTO DE TEATRO
DE GRUPO – "O MTG nasceu na virada de 90 para 91 e teve um
papel muito importante na afirmação de valores de um teatro de
grupo, que acreditamos. É uma espaço de reflexão, de discussão
e de briga interna, que eu acho ser muito salutar. Um canal de
representação política, como entendo que a política deve ser:
de forma sadia e com ‘p’ maiúsculo."
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