Atriz e Produtora
"Eu comecei a fazer teatro na escola
dos meus filhos. Existia um grupo de mães que fazia peças infantis
na semana da criança, dentro da escola. Era uma brincadeira. Viviam
me chamando, mas eu não subia no palco nem amarrada. Foram insistindo,
até que aceitei e fizemos "A Bruxinha Que Era Boa" em 1988. Não
tinha diretor, cenógrafo e nada. Eram as mães que faziam tudo.
Aí, gostei. No ano seguinte, chamaram o diretor Nelson Junqueira
Alvarenga, com a peça "A Festa de Brinquedos" que ele escreveu
e a gente a montou com um figurino caprichado, maquiagem, tudo
muito melhor do que no ano anterior. Então, não quis mais que
a gente ficasse só na semana da criança e queria abrir para a
comunidade, fazer em algumas creches, mostrar mais o trabalho.
Percebi que queria mais e fui procurar algum jeito de ir para
escola. Foi quando entrei no Palácio das Artes em 1990. Em 92
me formei e nos anos de 93 e 94, juntamente com o Luiz Hippert,
trabalhei com teatro institucional, o "Aids, Por Que Comigo?"
e "Drogas e Álcool, Encontros com a Solidão". Em 95, fiz a produção
de "Luas e Luas", em que também atuei. Em 96, o Dilson Mayron
e o Pádua Teixeira me chamaram para fazer "O Céu Tem Que Esperar",
com o qual ganhei o prêmio Sesc/Sated de melhor atriz. Com "O
Mágico de Oz", em 97, acabei ganhando outro prêmio de atriz coadjuvante
infantil e em 98 fiz "Veríssima Comédia", com direção do Carlos
Gradim. Depois fiz uma substituição no "Conto do Vigário" e outra
no "Com Jeito Vai", em que também fui indicada para prêmio. No
ano passado, a Iza Rodrigues me convidou para atuar no monólogo
"Shirley Valentine" e me propôs atuar também em "Dorotéia". Conciliando
as coisas, embarquei e foi uma experiência fantástica de ensaio
e aprendizado. Agradeço muito a Iza por isso. O ano passado foi
muito rico em experiência e trabalho para mim e ainda está sendo
maravilhoso.
TEATRO – O teatro
é a minha vida. Virou o ar que eu respiro. Nos dois anos em que
fiquei parada, a sensação era a de que me faltava ar. Foi horrível.
Em compensação, chego em casa hoje e digo que estou feliz demais.
Estar no palco, ver a luz acender e estar recebendo o público
é a minha energia, meu sangue, é vital. Se me tirarem isso hoje,
acho que eu não vivo mais. Apesar da minha idade ser assim um
pouco mais para lá, não tive uma vivência de teatro muito grande.
Só comecei a ter mais contato quando fui estudar no Palácio das
Artes, onde fui me inteirar das coisas. Era muito pobre e não
tinha esse hábito de frequentar teatro. Saí daqui nova, casei-me,
fui morar fora e fiquei muito tempo como dona de casa. Mas acho
que, nesses 12 anos, houve um salto muito grande no teatro mineiro,
principalmente de público. Antes, sentia um pessoal mais elitizado
frequentando teatro. Hoje, já vejo gente de todo tipo. Acho que
tem muito a ver com o nível das produções, que tem crescido muito
e se profissionalizado mais. A campanha de popularização tem feito
um trabalho muito legal nesse sentido, de formar público novo
para nós.
ESCOLA – Eu sou
suspeita para falar, porque eu amei fazer escola. Não tinha contato
nenhum com ninguém, já tinha 40 anos de idade e tinha que me estruturar
para a profissão. Claro que se pode fazer teatro sem escola, aprendendo
também na cacetada. Mas estudar dá uma base e uma estrutura que
fica e, quando a gente está no mercado, serve para entender o
que é que o diretor quer, a linha que está seguindo e o que está
se falando. Além disso, foi abrindo portas, fui conhecendo as
pessoas e elas me conhecendo.
LEIS DE INCENTIVO
CULTURAL – Eu não fui aprovada em nenhuma lei no ano passado.
O pessoal perguntava porque um projeto tão legal não foi aprovado
e eu repondia que não sabia e nem queria saber. Resolvi não esperar.
Acho que existe uma coisa de ficar esperando o pai. Não tem patrocínio,
não tem lei e aí eu paro de fazer? Acho que tem que ter outro
jeito. Então, optei por enfiar a mão no bolso. Mais tarde, fui
aprovada no projeto de viajens pelo interior. Qualquer coisa que
venha é bem vinda, mas fica parecendo esmola, favor, não sei.
Isso me faz sentir um pouco mal. Sem lei ninguém realiza, mas
não podemos ficar dependentes. Claro que tenho que batalhar muito
para repor esse dinheiro, mas estou feliz demais de ter encarado.
Tá feito e estou curtindo pra caramba.
RECADO – Eu li
um negócio ontem que gostei e copiei. Tenho essa mania. Foi encontrado
em 1692 em Baltimore: "Procure estar em paz com Deus, seja qual
for o nome que você lhe der. No meio do seu trabalho, nas aspirações
e na fatigante jornada pela vida, conserve, no mais profundo do
seu ser, a harmonia e a paz. Caminhe com cuidado. Faça tudo para
ser feliz e partilhe com os outros a sua felicidade."
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