Ator e Humorista
"Nasci no Serro no mês de outubro
e em dezembro fui o Menino Jesus no presépio da cidade. Então,
costumo dizer que esse foi o meu primeiro trabalho como ator e
daí não parei nunca mais. Aos oito anos de idade, mudei-me para
Vitória, no Espírito Santo. Voltei para Belo Horizonte e, no ano
seguinte, servi o exército. Em 1979, fiz prova no Palácio das
Artes para poder entrar na carreira artística.
Saí do exército, fui
fazer o curso de teatro e me formei no ano seguinte. Em 1981,
fui tentar minha vida de ator no Rio de Janeiro e fiquei por lá
quatro anos e meio. Fiz três espetáculos, nenhum de grande sucesso,
sendo um deles, com a Cia. Aérea do Circo Voador, do Perfeito
Fortuna. Em 1986, meu pai ficou doente e minha mãe pediu-me para
voltar. No mesmo dia em que cheguei em BH fiz o teste para um
espetáculo chamado "Os Melhores Anos de Nossas Vidas", sob direção
de Silvino Fernandes e produção de Márcio Machado. Daí em diante,
nunca mais fiquei sem trabalhar. Em 1987 fiz "Pazolini", com o
qual fomos para Portugal em um Festival Internacional de Teatro.
Tenho medo de esquecer algum, mas foram vários espetáculos que
fiz: "Com Jeito Vai", "Um Caso de Bastante Gravidez", "A Comédia
dos Sexos", com o saudoso Rogério Cardoso, "Brasil, Mame-o ou
Deixe-o", "Deu Charivali no Chalé", "O Menino do Dedo Verde" e
"Foi Bom Meu Bem". Depois comecei a produzir e montei "O Noviço",
junto com a Gisele Lemos e Kalluh Araújo na direção. Tinha feito
essa peça aos dezessete anos de idade e, com mais de trinta anos,
quis fazê-la novamente, com o mesmo personagem. Aí está a beleza
e a magia do teatro. Mais tarde fiz "Lá a Vida é Uma Comédia".
Depois, ganhei o prêmio Multishow do Bom Humor Brasileiro. A partir
daí, as portas se abriram para mim e eu descobri que também era
humorista. Montei "Pérolas do Tejo", em que mais de 50 mil pessoas
assistiram ao espetáculo e, em seguida, "Como Sobreviver em Festas
e Recepções Com Buffet Escasso", um sucesso que ainda faço e já
teve mais de 107 mil espectadores. Agora estou em cartaz com "O
Conto do Vigário", espetáculo que dirigi há três anos e hoje está
sendo um prazer fazê-lo, por contracenar de novo, pois há muito
tempo só fazia espetáculos solo. Faço também um trabalho para
empresas, chamado "Riso 14.000", e é o que me sustenta, pois a
gente sabe que teatro não dá muito dinheiro mesmo. As empresas
têm um certificado internacional chamado Iso 14.000. Como contava
piadas em palestras de grandes palestrantes do Brasil, um deles
me disse que eu deveria seguir o meu próprio caminho, criando
uma palestra sobre a importância do riso na vida das pessoas.
Então, o "Riso 14.000" é isso. Fiz também algumas participações
em televisão: "Sai de Baixo", programa da Angélica, "Oh, Coitado",
durante um ano, com a Gorete Milagres (a Filomena), além de muitos
programas locais. Na Globo, o Amauri Reis e eu fomos contratados
por um ano, a princípio, atuando somente no Globo Esporte. Durante
a Copa do Mundo, a gente fazia participações ao vivo da Praça
Sete todos os dias. Depois, fizemos um quadro chamado "Pelo Avesso"
e por último uma minissérie jornalística no bairro Taquaril. Fazíamos
um trabalho de resgate da cidadania daquelas pessoas. Mostrávamos
as pessoas trabalhando e empenhadas em fazer um Brasil melhor,
começando das suas casas e da sua comunidade.
TEATRO -
Embora tenha o sotaque mineiro e a vontade de permanecer em Minas
trabalhando com teatro, não gosto de falar em teatro mineiro,
porque acho bairrista. O paulista não fala do teatro paulista
e o carioca também não. Então, falo do teatro de uma forma geral.
Quando comecei a fazer teatro, há vinte e tantos anos, sempre
escutava que o teatro iria morrer, porque as novelas estavam arrebatando
o público, porque as casas de espetáculos não tinham a infra-estrutura
do cinema ou porque só ia ter ator de televisão. O cinema e a
televisão são maravilhosos e eu não vou discutir, mas a cada dia
que passa me convenço de que o teatro vai se perpetuar, porque
ele é o momento de interação do ator com a platéia. Tem uma magia
que nenhuma outra arte tem, que é a do momento presente, daquele
dia, daquela hora e daquela emoção. Por isso, o teatro tem uma
tendência a crescer, mas a gente precisa dar uma força. Com a
violência crescendo e o problema de estacionamento etc., vai ficando
até meio desesperador às vezes. A gente precisa começar a batalhar
para começarem a construir teatros dentro dos shoppings, que são
lugares seguros. Os donos de cinema tiraram o cinema da rua e
colocaram dentro dos shoppings. Então, agora a gente tem que começar
a pensar cada vez maior, porque se ficar pensando em teatro mineiro,
belo-horizontino, a gente não cresce e não tem amplitude. É preciso
construir templos teatrais dentro dos shoppings, que são templos
de compras e consumismo. A gente tem que fazer teatro lá dentro
também.
FORMAÇÃO DE ATORES - Em todos os espetáculos de formatura
que vou assistir, os atores tocam um instrumento, dançam e cantam.
Estou falando de atores de verdade, que se formam em escolas sérias
daqui e do Brasil, e não de modelos que viram atores, que a gente
vê na televisão. Esses bons atores estão muito mais preparados
do que eu quando entrei para o mercado de trabalho. Tinha muita
força de vontade e alegria de viver, mas não tinha a formação
que os atores têm hoje. Aprendi a fazer teatro na raça e todas
as coisas que sei na minha vida, aprendi fazendo teatro.
MISSÃO DO ATOR - Todo ser humano tem uma missão, independente
da profissão. A minha, como ator, é fazer as pessoas rirem. É
tornar a vida mais gostosa, suportável, alegre e divertida. Não
sei se essa é a missão do ator, mas tomei para mim como minha.
RECADO - Só
consegui me ver como pessoa a partir do momento em que comecei
a fazer teatro profissionalmente. Queria viver de teatro e hoje
vivo. Então, quero agradecer ao teatro por tudo que ele me deu
e, espero, do fundo do meu coração, que um dia, quando já tiver
partido dessa vida, tenha deixado uma contribuição à altura que
ele deixou para minha vida.
PALCO BH -
Já estava morrendo de ciúmes. São mais de três anos de Palco BH
e eu, até hoje, não tinha participado dessa entrevista. Estava
me sentindo preterido, porque me guio pelo Palco BH, me programo
pelo Palco BH, já anunciei muitas vezes e queria muito estar participando
dele. Acho que o Palco BH estava fazendo falta e, depois dele,
ficou mais fácil divulgar os nossos espetáculos e fácil para as
pessoas se localizarem na cidade para ver teatro. É uma grande
vitória dos artistas e de vocês realizadores, por terem conseguido
fazer em Belo Horizonte esse guia de teatro, que é maravilhoso."
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