WILMA HENRIQUES

Atriz

“Eu comecei a minha carreira na extinta TV Itacolomi, em 1959, e trabalhei por lá até 1965. Em 66 comecei, definitivamente, a minha carreira profissional no palco, com uma peça chamada "O Macaco da Vizinha", de Joaquim Manoel de Macedo, dirigida por Carlos Leite. Estou com 43 anos de profissão, fazendo todo ano um espetáculo.


Fiz cinema também. Foram três filmes, sendo o primeiro deles "O Menino e o Vento" de Aníbal Machado, em 66. No palco minhas aulas eram práticas e, com cada espetáculo que fazia, autor que interpretava e atores e atrizes com quem estava trabalhando, ia aprendendo. Quando fiz "Fala Baixo, Senão eu Grito", em 1973, produzido por José Mayer e dirigido pelo Eid Ribeiro, aconteceu um forte rompimento na minha vida como mulher e atriz. A minha carreira mudou e acho que cresci muito e consegui me libertar de muita coisa. Então, fiz coisas no palco que nunca tinha feito. Fiquei bem descomposta, despojada, de cara lavada e cabelo despenteado. Trabalhei com o Eid por três vezes e aprendi muito. Depois vieram outros diretores. Fiz "O Interrogatório", com o Jota Dangelo; "Me Ensina a Viver", com Helvécio Guimarães; "À Margem da Vida", com a Haydee Bitencourt em 67 e com Arnaldo Brandão em 81, além de "Dona Beija", com Paulo César Bicalho. Em 1994, fiz uma peça chamada "Boa Noite Mãe", produzida pela Maria Lúcia Schetino, que trouxe um diretor do Rio, o Marcos Vogel, que acabou ficando por aqui até hoje. Depois disso, fiz "Velório à Brasileira", com direção de Márcio Machado e Mamélia Dornelles no elenco e, em 1998 me apareceu o Dr. Jair Raso. Fiz com ele "As Mulheres se Odeiam" e, em 99, quando completei 40 anos de profissão, ele escreveu para as comemorações o texto "A Paixão de um Deus", que fiz com o Sérgio Cardoso. Criamos, então, um vínculo muito grande e a confiança para trabalhar. Hoje estamos fazendo a peça "As Três Mães", com produção, direção e texto dele e com Marcelo do Vale no elenco. É um trabalho que, por incrível que pareça, está sendo um desafio. Quando a gente pensa que sabe tudo, descobre uma série de novidades. É um aperfeiçoamento, principalmente, com a aula de corpo da Rita Clemente, de canto com a Thaís Garaype e a assistência de direção da Patricia Reis, além dos figurinos e cenários do Marney Heitmann. É um trabalho que mexeu muito com a minha cabeça e está sendo um prêmio para mim. Nesta altura da minha vida já rompi com tanta coisa, mas estou rompendo comigo mesma, pois, há uns dois meses, achava que estava pagando mico quando ia experimentar as cenas. Mas passou e aprendi que isso não existe. Uma atriz tem que ser despojada para ser disponível.

TEATRO MINEIRO – Na década de 60, época em que participei efetivamente, era um trabalho mais de amor e coragem. Não tinha subsídio nem leis de incentivo. As pessoas pegavam os móveis de suas casas e levavam para o cenário. Havia mais união. A quantidade de trabalho era menor, mas a qualidade, postura e consciência, sobretudo, eram muito fortes. A década de 70 continuou assim, mas a gente já ia para a Assembléia, procurava os deputados, conseguia verba, vendia programa e, enfim, fazíamos. Começamos a ter consciência de classe e fundamos a APATEDEMG, que é hoje o SATED e mais tarde a AMPARC, hoje Sindicato dos Produtores. Começou a crescer o volume e a renovação de talentos, o que deve haver, porque um dia eu vou morrer e alguém vai ter que ficar no meu lugar. Veio a década de 90 e acho que, apesar das leis de incentivo, as dificuldades começaram a surgir. O país também foi piorando e começou a aparecer uma quantidade enorme de atores e atrizes jovens, razoavelmente, com talento. Hoje, acho que nos falta união e estou vendo pequenos guetos. Alguém produz ali e falam que está bonitinho. O outro produz acolá, metem o pau e falam que devia ter feito assim ou assado… Acho que uma classe não pode ser assim. Tem que ter respeito, entrega e disciplina. Antes era mais lúdico, mas também viceral. Tínhamos um apego muito forte ao que estávamos fazendo. Existiam as fofocas, pois ninguém era santo, mas nos respeitávamos.

RECADO – "Vá ao teatro sempre.”

Coxia
Entrevista