GUSTAVO WERNECK

Ator

"Comecei no teatro com o Luciano Luppi em 1980. Foi um trabalho em uma peça infantil, retomando uma coisa antiga com ele, lá do Colégio Estadual Central, quando tinha 12 anos e ele 16. Esse reencontro, há 23 anos, no final do meu curso de medicina, foi muito legal, porque o Luppi me colocou de novo na trilha do teatro, que era o que queria retomar.


Depois, fiz o curso do Palácio das Artes, que na época era de um ano, e em seguida fui trabalhar com o Wilson Oliveira, no Grupo Encena. Fizemos "A Lira dos Vinte Anos" (1983), com Yara de Novaes, Cássio Pinheiro e Fernando Ernesto. Aliás, na década de 80 a gente embalou e trabalhou muito com teatro, sempre no Encena. Fiz ainda "Besame Mucho" (1987) e "Inimigos de Classe". Já na década de 90, comecei a espaçar um pouco, até porque meu outro lado profissional começou a me exigir mais, além de ter tido três filhos. Em 91, fiz "Trivial Simples", ainda no Encena e com direção do Wilson. Trabalhei também com a Andréia Garavello no espetáculo "O Casal Aberto", uma comédia deliciosa que foi uma experiência bem interessante. Depois, acho que fui voltar ao teatro somente em 96, no Encena novamente, com "O Beijo no Asfalto" e, em 99, com a Yara de Novaes, no "Ricardo III". Fiz um trabalho com o Carlão (Carlos Rocha-diretor) no Palácio das Artes, a Cantata do Rufo Herrera, o "Sertão Sertões", que achei muito interessante. Agora, depois de dois anos e meio sem fazer nada, retomei com o Carlos Gradim e a Yara, na Odeon Cia. Teatral, com a peça "O Coordenador". O trabalho com o teatro para mim é uma paixão. Infelizmente, não posso viver disso, mas é algo que pretendo no meu projeto de vida. Quero estar sempre trabalhando com teatro e como ator, que é o que gosto de fazer e preciso continuar fazendo, me mantendo em atividade, até para poder, futuramente, largar um pouco das outras coisas que hoje faço. Não que não goste, mas seria para me dedicar mais ao teatro.

TEATRO MINEIRO - Pelo que acompanho do teatro mineiro, vejo que hoje existem muitos grupos em atividade. Há um fortalecimento dos grupos. Alguns até já se encontram consolidados na cidade e com uma perspectiva de se lançarem no mercado nacional. Acho que é uma característica nova, porque antes os grupos eram eventuais. Juntavam-se e desmanchavam-se. Existe também um mercado que cresceu muito. O público de teatro em Belo Horizonte hoje aumentou e a gente tem muito mais teatros do que antes. Eram praticamente umas cinco casas de espetáculos com uma ocupação relativamente baixa. Fico impressionado quando vejo o grande número de espetáculos em cartaz, entre infantis e adultos, embora sempre tenha muita comédia. Pegou muito isso aqui. Não posso falar da qualidade, porque não vejo todos os espetáculos, mas acho que são muitas as comédias. Tenho visto, mesmo nas comédias, um certo cuidado das produções em não fazer qualquer coisa. Acho que estamos caminhando de uma maneira interessante. Quanto à formação dos profissionais hoje, percebo que as escolas de teatro estão sempre colocando bons atores no mercado. Tem o Palácio das Artes, que já forma há mais tempo, e o curso superior da UFMG que, em pouco tempo, já ocupou um espaço legal aqui e tem uma formação mais sólida, até para a docência. São profissionais aptos a dar aula de teatro. Além disso, existem vários lugares que dão cursos de teatro. Em colégios, por exemplo, as atividades artísticas anteriormente não incluíam o teatro. Hoje isso acontece em muitos deles. Esse é um espaço de trabalho que acaba colocando o teatro na agenda das pessoas.

RECADO - Gostaria de deixar registrada a satisfação que sinto quando vejo grupos como o Galpão ou a Odeon Cia. Teatral, por exemplo, estarem se colocando fora de Minas Gerais com tanta força e sendo tão bem recebidos. Isso mostra que nós temos muito valor. Então, acho que a gente tem que continuar fazendo teatro, buscando sempre a qualidade. Criar coisas novas e investir nisso, porque a gente tem muito para mostrar ao Brasil.

PALCO BH - É único. Ocupa um espaço de informação que é muito ágil e fácil de estar em contato, por estar em vários lugares. Para a gente que trabalha com arte, é o veículo de maior valor e temos que estar apoiando."

 

Coxia
Entrevista