Diretor
"Tinha 16 anos quando
comecei a brincar de fazer teatro, até isto se transformar em
uma profissão e no meu ofício. Junto com o Mauro Xavier, que hoje
é do Grupo Teatro Kabana, formamos uma dupla de palhaços. Começamos
a trabalhar com algumas técnicas de circo e utilizá-las no teatro.
É engraçado como as coisas têm uma certa sincronia. Começaram
a aparecer outras pessoas e fomos descobrindo que existia toda
uma tradição e um movimento que buscava essa ligação do teatro
com o circo. Chamamos pessoas para trabalhar conosco e começamos
a montar espetáculos. Fiz o curso profissionalizante do Palácio
das Artes e trabalhei como ator. Mais tarde trabalhei como diretor
e depois juntei-me à Ângela Mourão e fundamos o Grupo de Teatro
Andante, que foi o espaço que achamos para a pesquisa, a realização
de montagens, oficinas e etc. Dou aula no curso profissionalizante
do Palácio das Artes há 14 anos. Já dirigi vários espetáculos
que não são do Teatro Andante, mas sempre com grupos que me procuram
e que têm uma história, uma trajetória e acumulam coisas que acho
importantes. O primeiro espetáculo que fiz foi com o Mauro e se
chamava "Vamos Jogar o Jogo do Jogo", em 1978. Depois veio "O
Berro Como a Rádio Confusão Conta História de Princesa e Dragão"
e "Por Um Triz". Com o Grupo Reviu a Volta montei "O Beijo no
Asfalto", que foi super importante para minha história e é apresentado
até hoje. Mais recentemente, montei "Musiclown", "O Homem da Cabeça
de Papelão", com o Grupo Trama, e o "Olímpia" - espetáculo solo
da Ângela Mourão. Fiz também o "Na Lata", ligado a projetos sociais,
com moradores de rua de Belo Horizonte, e fui diretor assistente
de "Um Trem Chamado Desejo" do Grupo Galpão. Os meus espetáculos
recentes são uma reflexão do que é o trabalho do ator, de como
ele se define, se tem alguns parâmetros e fundamentos para, então,
poder insistir e tentar se aprofundar neles. É o extrato da minha
formação. Está ligado desde o trabalho do palhaço e das técnicas
circences ao trabalho de professor. Dar aula é algo que eu adoro
fazer. Está cravado em mim. É onde penso, falo, reflito, dou continuidade
a outras reflexões e experimento uma série de coisas. Não existe
escola perfeita, mas elas são muito importantes e permitem uma
vivência que quem não passou por nenhuma, não vive. Serve, no
mínimo, para as pessoas entenderem um pouco do que significa o
teatro."
TEATRO MINEIRO -
"O teatro mineiro hoje é completamente dividido e esfacelado entre
grupos de pessoas que, de alguma maneira, sustentam algumas entidades,
e outros que não têm nenhuma entidade que os sustentem. Acho que
isso impede que se tenha uma avaliação mais clara do que estamos
fazendo. São reflexões que deveríamos fazer coletivamente, mas,
infelizmente, pela própria fragmentação que atingimos, perdeu
muito o caráter que o teatro teve lá nas décadas de 70/80. Uma
visão da estética que não impedia uma reflexão mais política sobre
o que é o fazer teatral. Individualmente, fica muito difícil pensar
e refletir sobre teatro, porque ele é, basicamente, uma arte de
grupo, de reflexão, de atualidade e comunicação. São estas ligações
que fazem o teatro ser uma arte tão específica, tão diferente
da televisão, do cinema e das outras artes cênicas. Belo Horizonte
tem hoje a característica de um teatro realizado em grupos, por
causa da presença forte da televisão. A gente começou a se organizar
pela necessidade de sobrevivência. Mas esses grupos começaram
a perder sua função. A gente não move mais nada e aí começamos
a pensar no porque dos teatros vazios, em alguns grupos em ascensão
e outros em descenso. Mas qual é o significado disto? Nós vivemos
um momento em que toda a política cultural é definida por leis
de incentivo, quer dizer, a gente perde a capacidade de intervenção
e de diálogo com quem financia as coisas. Sinto o movimento teatral
mineiro um pouco caótico nas diretrizes, nos rumos e nas linhas,
mas por outro lado, sem ter só esta visão pessimista, acho que
algumas coisas começam a acontecer quando este caos se instala."
RECADO - "O que
nós necessitamos, hoje, é recuperar a nossa capacidade de reflexão
enquanto profissionais de teatro. Pensar o mundo que estamos vivendo
e o rumo que estamos tomando. Está tudo ligado a algo que temos
que batalhar muito, senão vamos perder esse bonde da história
e ele não passa mais. Estamos entregando para o outro a capacidade
de pensar o nosso fazer artístico."
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