Porteiro do Teatro Marília
"Comecei a trabalhar no Teatro Marília em 1989, através de um
conhecido que trabalhava no teatro e estava saindo. Entrei no
lugar dele. Era para ficar por mais ou menos três meses, mas já
faz 12 anos que trabalho aqui. Minha função é a portaria. Recebo
o público e coloco todos em fila para entrar e assistir ao espetáculo.
Trabalhar nesse ramo é interessante, porque a gente tem a oportunidade
de ver mil e um tipos de pessoas, desde crianças até adultos,
desconhecidos, pessoas importantes e famosas. O pessoal da Casa
também é excelente, juntamente com os próprios atores daqui, com
quem tenho a melhor relação possível.
Quer dizer, tudo
isso foi o que fez com que eu continuasse por tanto tempo. Embora
tenham muitas coisas complicadas no meio, dá para superar tudinho.
Algumas pessoas vêm para o teatro e trazem do mundo lá fora a
cabeça cheia de problemas. Vêm para descansar, mas, muitas vezes,
na hora da fila, ficam nervosas e acham o porteiro para desabafar
um pouco. Eu, que não tenho nada a ver com o peixe, nessas horas,
acabo levando alguma coisinha. Teve até um caso de uma senhora
que queria pagar um preço menor na bilheteria e aí veio até à
portaria e começou a xingar e disse que ia falar para direção
sobre o ocorrido. Depois que assistiu ao espetáculo, saiu calminha,
passou direto e não levou nada adiante, porque a cabeça esfriou.
Ela se transformou em outra pessoa. Não assisto muito aos espetáculos,
porque tenho que ficar do lado de fora e atender ao telefone.
Tenho que ficar mais nos bastidores mesmo. Não dá para fazer duas
coisas ao mesmo tempo. Tenho que ficar com 100% de atenção no
meu posto. Aí, entrego o público lá dentro e deixo todos se divertirem
a vontade."
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