MÁRCIO FONTOURA

Técnico do Teatro Francisco Nunes

"Vim para a Ceschiatti por acaso. Trabalhava no Banco Minas Caixa e, com o seu fechamento, fui para a Secretaria de Educação. Aí, por questões de horário de trabalho e, como já estava na cultura, escolhi o Palácio das Artes. Eu e vários amigos viemos para cá no período. Ninguém tinha nenhuma noção de teatro e fomos aprendendo no dia-a-dia. Por sinal, é o que acontece com os técnicos ainda hoje. A gente não tem um curso específico. O que existe é que algum iluminador daquela época, hoje está dando um ou outro curso. Então, fiquei de três a quatro anos trabalhando e aprendendo.

Ficava mais na parte de operação e, esporadicamente, na montagem, porque eram seis técnicos na época. Para a Sala era uma festa. Como era muito dividido o serviço, a gente acabava por não aprender tudo o que deveria. Era muita gente. Vim para cá em 1993 e fiquei até 1996, pois abri um restaurante e tive que sair, por não conciliar os horários. Fiquei uns 6 anos fora, trabalhando no restaurante, fazendo curso de hotelaria, trabalhando em hotel, onde estou até hoje, além do teatro. Retornei ao teatro a convite do Adélio Andrade, com quem trabalhei naquele período e o único que continuou. Percebo que, na verdade, pouca coisa mudou. Continua a carência de treinamento, de cursos e equipamentos. Estamos trabalhando com o mesmo equipamento de dez anos atrás. Só trocaram a mesa, mas os refletores… Então, a gente nota que podia fazer um trabalho muito melhor, mas fica travado, porque não tem condições. Falta alguém para olhar com mais carinho a Ceschiatti, como também a Juvenal Dias (apesar de ser mais nova), porque o Grande Teatro é "a menina dos olhos" da Fundação Clóvis Salgado. A Sala não se paga. Acho que deveria haver um esquema mais profissional também. Investiram no espaço, puseram ar condicionado, trocaram as cadeiras, enfim, investiram fisicamente, mas a gente não vê nada em outros recursos. Gosto muito da profissão, mas deve ser mais trabalhada, para dar melhores condições. A gente aprende muito no erro e tudo é muito em cima da hora. Entregam o mapa no dia da estréia (quando tem mapa). Isso compromete a qualidade, pois as pessoas ensaiam durante meses, às vezes, um ano. A gente tem que pegar tudo em um dia. Fica só aquela coisa mecânica da execução. A gente pensa também, mas precisa de um tempo. O relacionamento com os artistas e a produção é muito bom. São pessoas boas, muito tranquilo. Há aquela correria da montagem, mas o pessoal é bacana.

RECADO - Eu gostaria de melhores condições de trabalho, mais específicas e profissionais, pois tudo ainda é muito amador. Quero agradecer ao Adélio Andrade e à Édila (Gerente da Sala) pela oportunidade que me deram de retornar à Ceschiatti."

Camarim
Entrevista